Título: Estaleiro investigado tem R$ 1,6 bi a receber
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2007, Nacional, p. A6

Mauá Jurong foi contratada para construir 4 navios para a Transpetro e ainda trabalha na conclusão das plataformas P-54 e Mexilhão

Investigado pela Operação Águas Profundas, o estaleiro Mauá Jurong tem hoje em carteira alguns dos maiores contratos da Petrobrás. Apenas para a construção de quatro navios para a Transpetro, a empresa receberá R$ 630 milhões. A empresa trabalha ainda na conclusão das plataformas P-54 e Mexilhão - esta em Santos. Cada uma custa R$ 1 bilhão e o estaleiro tem participação de cerca de 50% na empreitada. A encomenda está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que suspeita de superfaturamento no projeto.

Os dois contratos receberam financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para os navios, o banco concedeu R$ 564,5 milhões; para a plataforma, US$ 272 milhões - o equivalente a cerca de R$ 540 milhões. O Mauá Jurong participou ainda da construção das plataformas de produção de petróleo P-43, P-48 e P-50, todas para a estatal. Esta última foi eleita pela companhia estatal como símbolo da conquista da auto-suficiência na produção de petróleo.

Fundado no final do século 19, o estaleiro é hoje controlada pelo empresário German Efromovich, que esteve à frente da Marítima Engenharia e Petróleo, que também atuava na construção naval e protagonizou intensos confrontos com a Petrobrás no início desta década. A relação das duas companhias é tema de uma série de investigações do Tribunal de Contas, que contestam desde a falta de licitações até o custo das obras.

No início dos anos 90, quando a Petrobrás era presidida por Joel Rennó, a Marítima ganhou sucessivas encomendas de plataformas da estatal, em contratos avaliados em US$ 2 bilhões. No final da década, porém, foi impedida pela gestão Henri Philippe Reichstul de participar de licitações da estatal, iniciando uma dura batalha jurídica na qual as duas partes pediam ressarcimento por perdas e danos.

MULTA

As encomendas da era Rennó foram investigadas em diversas ocasiões pelo TCU, que, em 2003,multou o ex-presidente da Petrobrás e outros funcionários da empresa em R$ 24,5 mil devido a irregularidades nas contratações. Efromovich ainda tentou participar de licitações da Petrobrás com o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), mas teve o pedido de financiamento junto ao BNDES negado.

Ao comprar o Mauá, em 2003, em uma operação conjunta com a Jurong, de Cingapura, o empresário finalmente voltou a disputar as licitações. Antes, porém, foi ao Tribunal de Contas da União denunciar a estatal por excluir sua empresa da disputa pela construção da plataforma de rebombeio autônomo (PRA-1).

Na época, o empresário dizia ter oferecido um preço inferior aos concorrentes. A Petrobrás, porém, deu o contrato ao consórcio Odebrecht/Ultratec, alegando que a proposta apresentada por esse grupo era 'adequada'.

Efromovich costuma dizer que é preterido pela estatal por pressão de seus concorrentes. Em entrevista ao Estado na quarta-feira passada, ele afirmou que as denúncias de corrupção investigadas pela Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, são 'intriga da oposição'. 'O Mauá sempre tem ganho as concorrências com as melhores condições econômicas e técnicas. Isso incomoda muita gente', acusou Efromovich.