Título: Putin suspende participação russa de tratado de armas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2007, Internacional, p. A17

Otan tem 5 meses para rever acordo e evitar retirada definitiva dos russos

O presidente russo, Vladimir Putin, assinou ontem um decreto suspendendo a participação da Rússia no Tratado de Forças Convencionais na Europa (CFE, pelas iniciais em inglês). O Kremlin disse ainda que, se o acordo não for revisto em cinco meses, os russos se retirarão do tratado. Com isso, Putin põe em prática, pela primeira vez, a moratória na participação russa no CFE, declarada em abril.

O tratado, assinado em 1990 por todos os membros da Otan e do Pacto de Varsóvia, regula o deslocamento de aviões militares, tanques e outras armas pesadas convencionais em toda a Europa. Uma versão emendada foi lançada em 1999 para refletir as mudanças após o fim, em 1991, da União Soviética.

A Rússia assinou a nova versão, mas os EUA e os membros da Otan recusaram-se a ratificá-la até que Moscou retirasse suas tropas da Moldávia e da Geórgia, ex-repúblicas soviéticas. Putin disse reiteradas vezes que os dois acordos não podem ser vinculados e destacou que seu país já caminha para retirar seus soldados dos dois países.

'O CFE é uma relíquia da Guerra Fria que não tem mais sentido. Em quase duas décadas, somente a Rússia implementou o acordo, enquanto a Otan nunca se sentiu obrigada a colocá-lo em prática', afirmou de Moscou ao Estado o diretor do Laboratório Nacional de Política Externa, Vladimir Frolov.

O que mais incomodava a Rússia, de acordo com Frolov, era o fato de o tratado limitar o movimento de suas tropas dentro de seu próprio território. 'As fronteiras russas estão mais instáveis e o CFE sempre limitou a ação do governo em conflitos como o da Chechênia, por exemplo', disse Frolov.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, a partir de agora o país deixaria de fornecer informações consideradas estratégicas, não permitiria mais as inspeções de seus armamentos pesados e decidiria unilateralmente o número de tanques e aviões estacionados em cada região do país. No entanto, na mesma nota, acrescentou que a suspensão não significa o fim do diálogo. Em nota oficial, a Otan qualificou a decisão de 'um passo na direção errada'.

O anúncio é mais um episódio da deterioração das relações da Rússia com os EUA. Entre os temas mais divergentes entre as duas potências rivais estão a expansão da Otan, o plano americano de instalar um escudo antimíssil na Polônia e República Checa, a independência do Kosovo, à qual os russos se opõem, e a política energética agressiva de Moscou.

'Se não houver acordo com os EUA, a Rússia pode apontar seus mísseis para a Europa como nos anos 70', disse Yevgeny Volk, diretor da Heritage Foundation, centro de estudos com sede em Washington.