Título: 'Podia ter sido no Brasil'
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2007, Economia, p. B8
Turista enfrenta crise com humor e só lamenta perda do jogo de futebol
'Brasiloche' é a denominação irônica que os barilochenses concedem à própria cidade, San Carlos de Bariloche, que nos meses de inverno transforma-se em 'território brasileiro' encravado na gélida Patagônia argentina.
O volume significativo de turistas do Brasil fazem com que, no centro da cidade, o segundo idioma mais falado seja o português.
Na semana passada, os turistas brasileiros que aproveitavam o frio de até -15°C em Bariloche foram pegos pelo apagão de 16 horas que atingiu a maior parte da cidade. O transtorno coincidiu com a grave crise energética que assola a Argentina desde maio.
No entanto, o apagão parece não ter atrapalhado a diversão dos brasileiros ouvidos pelo Estado. 'Não tivemos problemas. Nosso hotel tem gerador elétrico próprio', disse José Rogério, economista de São Paulo, que foi a Bariloche acompanhado por outros 10 parentes, incluindo filhos, tios e sobrinhos. Mas destacou que se a falta de energia tivesse se prolongado, teriam voltado para o Brasil.
'O medo é o que pode acontecer com a calefação, em uma crise dessas e em uma região onde a temperatura é negativa.' Sua mulher, Carla, brincou: 'Só atrapalhou mesmo para assistir o jogo do Brasil na terça-feira, pois a luz ia e vinha'. Elisa, outra integrante da família, ficou presa no elevador por 15 minutos. Mas levou o apagão na esportiva: 'Isso também poderia ter acontecido no Brasil'.
O médico carioca Ricardo Braga tampouco foi prejudicado pelo apagão em seu hotel. 'Saímos para jantar e fomos a um restaurante iluminado à luz de velas. O jantar foi muito bom. O único problema era o cheiro do gerador à gasolina.'
Os gaúchos Luís Carlos Fagundes e sua mulher, Maíra, de Caxias do Sul, que desembarcaram em Bariloche no fim de semana passado, estavam em um hotel sem gerador na hora do apagão. 'Ficamos sem luz nem água naquela noite.' Saíram para jantar num restaurante rústico no sopé da montanha, que também estava iluminado à luz de velas. 'Ficaria preocupado se o apagão continuasse. Mas no dia seguinte estava tudo bem.' Luís e Maíra, que estavam pela primeira vez em Bariloche, afirmaram que o apagão não havia reduzido o entusiasmo deles pela cidade.
O casal Paulo e Ana Paula Ribeiro, de São Paulo, nem se incomodou com o apagão, que foi encarado como uma 'circunstância'. Mais um casal que jantou à luz de velas.
Para 'don' Werner, um imigrante alemão que reside na cidade há mais de meio século, 'para quem está acostumado a uma vida dura, com um clima áspero esse apagão não foi um drama'.