Título: Mercado prevê queda mais lenta do juro em 2008
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2007, Economia, p. B15

Para analistas, ritmo de redução da taxa vai diminuir e o Brasil continuará entre os campeões de juros altos

Apesar de esperar que a taxa básica de juros (Selic) continue caindo nos próximos dois anos, o mercado prevê, a partir de 2008, um ritmo mais lento de reduções pelo Banco Central (BC), presidido por Henrique Meirelles. Assim, mesmo com o País alcançando mínimas históricas em termos de juros básicos, no cenário vislumbrado pelos analistas o Brasil ainda estará longe do nível dos países desenvolvidos e, entre os países emergentes, ainda fará parte do grupo com juros mais altos.

Dados levantados pelo BC entre os analistas financeiros mostram que o mercado espera que a Selic, que começou este ano em 13,25%, termine 2007 em 10,75% anuais, caindo para 9,75% em 2008, 9% em 2009 e 8,75% em 2010. Analistas ouvidos pelo Estado apontam uma série de razões para o juro nominal continuar relativamente alto no Brasil, mesmo em queda.

O ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas avalia que o primeiro motivo é que a expectativa de inflação no Brasil ainda é relativamente elevada e o País caminha muito lentamente para uma inflação de longo prazo entre 2% e 3% anuais, nível que prevalece nas economias mais organizadas. Ele explica que o País tem uma rigidez maior nos índices de preços por causa dos chamados bens não transacionáveis, como serviços, que têm inflação média anual de 5%.

Para resolver esse problema, ele aponta a necessidade de redução da carga tributária, que amarra a inflação desses produtos em níveis mais altos. Enquanto isso não acontece, explica Thadeu de Freitas, o trabalho de convergência sustentável do IPCA para a faixa dos 2% a 3% fica mais difícil, sustentando as projeções na casa dos 4%.

'Ainda vai demorar para o Brasil chegar ao nível de inflação de longo prazo de 2% a 3%', disse Freitas. Outro ponto apontado pelo ex-diretor do BC é a elevada dívida pública, que faz com que o Brasil tenha de pagar juros maiores para se financiar.

O economista também pondera que a atual queda na inflação reflete a valorização rápida do real ante o dólar, que, segundo ele, está chegando ao limite. A simples estabilização do câmbio já tiraria um fator de redução dos índices de preços e uma reversão na tendência poderia elevar o IPCA. 'O dólar caiu muito rápido e em algum momento pode voltar, diminuindo o espaço para queda no juro.'

Sérgio Vale, economista da MB Associados, considera que a questão fiscal é o ponto crucial por trás das expectativas de desaceleração do ritmo de queda na Selic nos próximos anos. 'A situação fiscal de longo prazo no Brasil é ruim', afirmou. Apesar de a dívida brasileira estar em queda em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), Vale destaca que o gasto público corrente está em alta e é 'estruturalmente elevado', o que exige manter receitas em crescimento.

'Se a arrecadação não avançar no nível necessário para bancar esses gastos, será preciso elevar a carga tributária, elevando o custo dos investimentos e deixando o BC mais amarrado para baixar os juros, já que a oferta não vai crescer no ritmo da demanda', disse Vale. 'O grande problema é a política fiscal.'

O economista também pondera que as projeções para os próximos anos refletem o viés conservador do BC e o fato de que os analistas estão avaliando os efeitos do novo nível de juros sobre a atividade econômica e a inflação, o que leva a projeções mais conservadoras.

Para a economista Tatiana Pinheiro, do Banco ABN Amro, o debate sobre os juros nos próximos anos tem de ser precedido pela discussão sobre a capacidade produtiva do País. Ela mencionou estudo do Departamento Econômico do banco que mostra que a trajetória esperada de queda nos juros pode fazer a demanda interna crescer por volta de 8% ao ano. 'A grande questão é: temos capacidade produtiva para isso? Aparentemente, não. Há gargalos importantes, como a energia, que não foram superados.'

Tatiana explica que o crescimento da demanda, sem contrapartida de investimentos fortes, gera inflação, por isso a calibragem dos juros deve estar atenta a isso. Para a economista, os juros no Brasil já não são uma anomalia e, mesmo com a desaceleração do ritmo de queda nos próximos anos, já estarão na média dos emergentes.

Independentemente das análises, é importante lembrar que as projeções dos analistas são bastante voláteis e sujeitas a erros, especialmente as de longo prazo. Prova disso é que, no início do ano, a pesquisa do BC mostrava que o mercado esperava que a Selic fechasse 2007 em 11,75%. Em janeiro de 2006, a previsão era de 13,5%. Agora, os economistas esperam 10,75% ao ano para o fim de 2007.