Título: Um em cada seis paulistanos vive em favela
Autor: Duran, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2007, Metrópole, p. C1

Um em cada seis paulistanos vive hoje em favela. No total, 400 mil famílias - entre 1,6 milhão e 2 milhões de pessoas - ocupam um território de 30 quilômetros quadrados de barracos, em 1.538 ocupações. É uma população comparável à de Curitiba (PR), com 1,78 milhão de pessoas. Há quatro anos, quando foi realizado o último estudo do tipo, 290 mil famílias, ou 1,3 milhão de habitantes, viviam nessa situação na capital.

A explicação para o aumento de 38% dessa população, dizem os especialistas, não está na intensificação da pobreza, mas principalmente no crescimento vegetativo. Com uma curiosidade: a área ocupada pelas favelas continuou praticamente a mesma. Mas elas incharam e se verticalizaram.

As conclusões fazem parte de um estudo inédito feito pela Prefeitura em parceria com a organização internacional Aliança de Cidades, financiada pelo Banco Mundial. Os resultados, aos quais o Estado teve acesso com exclusividade, servirão para nortear as políticas de urbanização de favelas em São Paulo nos próximos anos. A partir de dezembro, também estarão disponíveis na internet.

A pesquisa mais recente sobre favelas em São Paulo foi realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) há quatro anos. Entre as constatações, estava a de que essas ocupações dominam 2% do território da cidade, de 1,5 mil km².

Feito com base no Censo das Favelas de 1987 e fotos de satélite, o estudo do CEM constatou ainda a existência de 2.018 ocupações. A superintendente de Habitação Popular de São Paulo, arquiteta Elisabete França, responsável pelo novo estudo, acredita que, apesar de as pesquisas terem métodos diferentes, o mais provável é que ambas estejam corretas. ¿Houve conurbação. Agrupamentos pequenos se uniram em grandes complexos¿, diz.

As favelas da capital já foram alvo de vários estudos. O que diferencia o atual de todos os outros é que a maioria não foi a campo. ¿Eram espécies de atualizações do Censo de 1987¿, diz Elisabete. Desta vez, não. A Prefeitura contratou a Fundação Seade para verificar in loco a situação da população.

A constatação de peculiaridades da vida dessa população permitiu à pesquisa estabelecer uma pontuação de zero a dez para as condições de infra-estrutura das ocupações - da distribuição de energia elétrica à coleta de lixo. Dados como vulnerabilidade social, saúde e renda média das famílias são cruzados com mapas da geologia do terreno. Finalizado o trabalho, qualquer um poderá ter acesso a informações completas de cada uma das ocupações da capital, com direito a foto aérea e mapa.

O estudo também mapeou 1.856 loteamentos clandestinos na cidade, mas as informações sobre a população deles é ainda incipiente. A parte mais detalhada da pesquisa, sob responsabilidade da Fundação Seade, está em fase de tabulação.