Título: Nas alças de acesso das marginais, 19 favelas de frente para os caminhões
Autor: Duran, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2007, Metrópole, p. C3

Algumas delas estão entre as de maior risco em uma escala de zero a dez criada pelo estudo da Prefeitura

Um dos alvos das invasões em São Paulo que culminam em novas favelas são as pontes das marginais e seus terrenos ao lado das alças de acesso. Segundo o novo estudo, há 19 ocupações ao longo das pontes do Tietê e do Pinheiros, várias das quais erradicadas e renascidas, como a da Ponte Julio de Mesquita Neto, na zona norte, retirada e reocupada duas vezes.

¿Não existem favelas iguais. Cada uma é um bairro, com cultura e história própria¿, afirma a arquiteta Elisabete França, superintendente de Habitação Popular de São Paulo e responsável pela pesquisa.

Segundo ela, a maior vantagem do estudo foi a possibilidade de requalificar o conceito de área de risco e mudar a ordem de prioridades dos programas de urbanização das favelas da capital. Desde 2002, a Prefeitura segue um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado com o Ministério Público Estadual (MPE), que põe na frente da fila de ocupações a receberem obras aquelas que apresentarem maior risco de deslizamento de terra.

Foi dessa forma que a Nova Jaguaré e o Morro do Sabão, na zona oeste, começaram a ser urbanizados há quatro anos. Os riscos dos moradores de favela, porém, vão muito além do deslizamento. No caso das marginais, há o de atropelamento ou mesmo de exposição a altos índices de poluição.

O aposentado Pedro Costa, de 71 anos, abre a porta de casa, sob a Ponte da Anhangüera, e dá de cara com os caminhões que cruzam a Marginal do Tietê. Ele conta que há quatro anos herdou o barraco de alvenaria do sogro, Joaquim Alves Pereira, que viveu durante 27 anos na moradia, até morrer atropelado na ponte que o protegia, aos 92 anos. ¿Eu morava em Medicilândia, no Pará, e vim para cá¿, conta o aposentado.

Apesar do barulho que o deixa com ¿uma zoeira¿ na cabeça na hora de dormir, Pedro Costa afirma preferir os caminhões da marginal à pobreza do vilarejo onde morava. ¿Aqui é melhor. Olha só: tem remédio direto no posto. Os meninos (os três netos que cria, Hércules, de 9 anos, Vanderson, de 8, e Sandro, de 7) têm até escola¿, diz.

A favela onde o aposentado mora, por exemplo, figura entre as de maior risco, porém não tem desempenho ruim no quesito infra-estrutura. Por isso, o estudo da Prefeitura estabeleceu um critério de pontuação das ocupações, que vai de zero a dez, sendo a nota mais baixa sinônimo de precariedade total e a máxima - não atingida por nenhuma - a que exprime a melhor situação.

Há favelas que têm coleta de lixo, rede oficial de distribuição de energia elétrica e água concedida pela Sabesp (veja quadro ao lado) e outras que sequer têm ligação clandestina de luz. ¿Paraisópolis ( zona sul) é exemplo de cidade sustentável. Todo mundo lá vai a pé para o trabalho¿, diz Elisabete França.

ALIANÇA

Financiadora do mapeamento de favelas da Prefeitura de São Paulo, a Aliança das Cidades é uma organização internacional formada por 24 membros, que inclui de governos federais, como da Itália e da Alemanha, a outros organismos como o Banco Mundial e a ONU-Habitat. Possui fundo próprio de recursos composto de doações. Além da parceria com a capital paulista, a Aliança desenvolve trabalhos em Minas Gerais e na Bahia, geralmente de urbanização de favelas.