Título: Investimento estrangeiro direto atinge US$ 10,3 bi, um recorde
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2007, Economia, p. B1
Valor do IED de junho, atípico, decorre de grandes negócios no mês, como a compra da Arcelor pela Mittal
O ingresso de investimentos estrangeiros diretos foi às alturas em junho, atingindo o recorde de US$ 10,318 bilhões, o maior valor mensal desde 1947. Em um único mês, o País recebeu mais recursos do que no ano de 2003 inteiro. 'É surpreendente', admitiu o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes. Ele havia projetado um ingresso de US$ 6,5 bilhões, que ainda assim teria sido um recorde.
No ano, os ingressos de investimentos chegaram a US$ 20,864 bilhões, o que levará o BC a rever sua projeção para o total de 2007, atualmente em US$ 25 bilhões. Na série de 12 meses terminada em junho, os investimentos diretos chegaram a US$ 32,261 bilhões. Só houve um fluxo grande assim na época das privatizações, em 2000, quando o ingresso foi de US$ 32,779 bilhões.
O volume de junho é, diz Altamir, um 'ponto fora da curva', ou seja, um resultado fora dos padrões. Nos últimos meses, o País vem recebendo fluxos mensais na casa dos US$ 2 bilhões. Para julho, a estimativa é de US$ 3,5 bilhões.
O resultado atípico de junho foi provocado por uma concentração de negócios de grande porte. O principal foi a compra das operações brasileiras da siderúrgica Arcelor pelo grupo indiano Mittal. Os dados do BC mostram que houve ingressos de US$ 2,893 bilhões no ramo de metalurgia básica no mês.
Outro setor que deu um pulo foi o de 'serviços prestados a empresas', com US$ 1,495 bilhão. Nessa estatística, entrou a compra da Serasa pelo grupo irlandês Experian.
Também o setor de 'intermediação financeira' atraiu ingresso forte, de US$ 1,119 bilhão. O número deve incluir o investimento de US$ 494 milhões feito pelo Deutsche Bank, que se tornou sócio da Unibanco Participações Societárias.
O fluxo de investimentos estrangeiros para instalar ou comprar empresas no Brasil continuará forte, avaliou Altamir. 'Acho que caminhamos para a consolidação de outro patamar', disse.
Além disso, o dinheiro que chega do exterior não é só para comprar o controle de empresas. 'Tem muita empresa nova', afirmou. 'O que está acontecendo é muito maior do que a compra de controle acionário.' Altamir apontou três explicações para o maior fluxo de investimentos no Brasil: os bons fundamentos macroeconômicos (inflação baixa, juros em queda, política econômica estável), a queda do risco Brasil e o movimento de fusões e aquisições que ocorre no mundo todo.
SALDO POSITIVO
Em junho, o País teve ainda um saldo de US$ 696 milhões na conta de transações correntes (movimento de comércio e serviços e o fluxo de rendas com o exterior). O resultado ficou acima do esperado pelo BC, que previa um número próximo a zero. Neste mês, até ontem, o resultado parcial era um saldo positivo de US$ 100 milhões.
O desempenho é explicado principalmente pela queda das despesas líquidas com juros. A conta fechou com um saldo negativo de US$ 560 milhões, menos da metade do US$ 1,2 bilhão de junho de 2006 - as receitas passaram de US$ 381 milhões, em junho de 2006, para US$ 900 milhões agora. As despesas passaram de US$ 1,586 bilhão para US$ 1,460 bilhão no mesmo período. A receita com juros subiu por causa do aumento das reservas internacionais.
O crescimento da base de investimentos diretos no Brasil fará com que as remessas de lucros e dividendos permaneçam num volume elevado, disse Altamir. Em junho, foram de US$ 1,746 bilhão, somando US$ 8,625 bilhões no acumulado do ano. Em julho, até ontem, estavam em US$ 1,65 bilhão.