Título: Governo prevê que aumento da passagem aérea vai gerar desgaste
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2007, Metrópole, p. C8

Presidente da Infraero não estima valores, mas diz que ¿o passageiro vai ter de pagar mais caro pela segurança¿

O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, confirmou ontem que a determinação de retirar em 60 dias conexões e escalas de Congonhas levará ao aumento do preço das passagens aéreas, como havia informado ao Estado o secretário-geral do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), Anchieta Helcias. O assunto foi discutido na reunião de coordenação política, na manhã de ontem, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo já admite que a medida ampliará o desgaste político, mas que será necessária para ampliar a segurança do passageiro.

O brigadeiro não falou em quanto as passagens podem aumentar. Anteontem, Helcias havia lembrado que, com o novo sistema de baixo custo e aproveitamento de aeronaves ao máximo, foi possível reduzir o preço das passagens em 30%. Mas não quis dizer quanto poderia ser reincorporado. ¿As companhias vão ter mais gastos, com tripulações maiores e mais vôos¿, declarou o brigadeiro, ao justificar por que haverá aumento no preço das passagens. Ele lembrou ainda que haverá vôos remanejados de Congonhas para Guarulhos, Viracopos, Confins, Rio e Brasília, o que implica mais custos. ¿O passageiro vai ter de pagar mais caro pela segurança dele.¿

O caos aéreo, o acidente da TAM e o esvaziamento de Congonhas compõem o roteiro do desgaste do governo. O presidente Lula e os ministros que fazem parte de sua coordenação política avaliaram ontem que o Planalto também sofrerá uma forte rejeição com a decisão de fazer o Aeroporto de Congonhas voltar a ser como era até o início dos anos 90, apenas um terminal local e para vôos da ponte aérea São Paulo-Rio. Mas todos decidiram que não haverá volta.

Eles avaliaram também que grande parte do desgaste político virá dessa pressão por um aumento dos preços das passagens de avião. O comércio instalado em Congonhas, além das empresas aéreas, vai reclamar e pedir que o governo ceda e volte a autorizar as centenas de vôos diários para todo o Brasil.

A coordenação política do Planalto concluiu ainda que, passado o clima de comoção que tomou conta do País por causa do acidente com o Airbus 320 da TAM, na terça-feira, a população fará pressão para que mais e mais vôos voltem para o terminal. Tudo somado, calcularam os assessores presidenciais, o passivo político será grande.

De acordo com um dos participantes da reunião com o presidente Lula, o Planalto avaliou que tomou a decisão certa ao determinar que os vôos sejam retirados de Congonhas. E que, no momento, tem de tomar medidas relativas à segurança dos vôos, não importando a questão da comodidade aos passageiros ou às empresas aéreas, por ser Congonhas um aeroporto localizado em área central.

REAJUSTE À VISTA

Os ministros e o presidente Lula acham que as empresas vão aumentar o preço das passagens, visto que, para pousarem seus aviões em Congonhas (nos vôos autorizados, que não poderão ter escalas), terão de reduzir peso, o que significa perder passageiros, ou então, pelo fato de terem de operar em aeroportos mais distantes, como Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas.

¿Esse é o preço que terá de ser pago para que seja obtida segurança máxima, tanto pelo governo quanto pelos passageiros e pelas companhias¿, disse Lula, segundo um dos seus auxiliares.

Durante o encontro com os ministros, o presidente ressaltou que os problemas nos aeroportos não devem ser creditado apenas ao governo, mas também aos seus antecessores, às companhias aéreas que priorizam vôos em Congonhas e até aos passageiros, que preferem o aeroporto pela localização privilegiada, de acordo com seus auxiliares.

No programa de rádio Café com o Presidente (ler matéria abaixo), Lula criticou a ocupação desordenada na região do entorno do aeroporto. ¿É importante lembrar: por mais seguro que seja Congonhas, ele foi cercado pela cidade¿, disse. ¿É só olhar de baixo ou de cima que a gente vai ver a quantidade de prédios.¿

Ele citou a construção recente de um prédio perto do Jockey Club. ¿Então, para essas coisas vamos fazer a parte que cabe ao governo federal, à Infraero, à Aeronáutica, ao Ministério da Defesa, vamos procurar outro local, tentar fazer outro aeroporto, para diminuir a possibilidade de uma nova tragédia.¿

Embora a reunião da coordenação política tenha discutido a crise aérea, o ministro da Defesa, Waldir Pires, não estava presente. Ontem, Lula analisou nomes para substituir Pires, considerado ineficiente para lidar com a atual crise no setor aéreo. Pires só participou de um encontro à tarde para discutir com o presidente e outros ministros o orçamento do Ministério da Defesa.