Título: O custo de investir no Brasil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2007, Notas & Informações, p. A3

Mais de um quarto de século se passou até que, em 2006, o Brasil conseguisse superar o seu próprio recorde de investimentos fixos. No ano passado foram investidos na economia brasileira R$ 221 bilhões (em valores constantes), contra R$ 206 bilhões investidos em 1980, que era o recorde anterior (na média do período 1997-1998, os investimentos anuais ficaram em R$ 206 bilhões, valor bem próximo desse recorde). Para este ano, o governo prevê o aumento de 8,1% nos investimentos fixos (em máquinas e equipamentos, instalações e construções), e o resultado esperado pelas autoridades é o crescimento de 4,7% do PIB.

Para que o PIB cresça à média de 5% ao ano entre 2010 e 2012, como projeta o governo, o investimento total deverá crescer bem mais do que a produção e o consumo. No fim do período, o País registraria um investimento fixo de R$ 328 bilhões em valores constantes (a base para o cálculo desses valores é o ano de 2000). Só então, o Brasil superaria o recorde do investimento per capita, de R$ 1,8 mil por habitante registrado em 1980.

Esses números estão numa pesquisa sobre o preço relativo do investimento fixo no Brasil elaborada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e publicada na carta da instituição.

A evolução da economia brasileira mostra um claro paralelismo entre o crescimento do investimento fixo, sobretudo em maquinaria, e a expansão do PIB. Desde o início da década de 1980, porém, apesar das reiteradas declarações das autoridades de que é preciso investir cada vez mais, o Brasil investe parcelas cada vez menores do PIB. Por que tem sido tão lenta a reação dos investimentos?

O estudo do Iedi sugere uma explicação. No Brasil, o custo de investir tem aumentado mais do que os demais preços da economia, em particular os de bens de consumo. Mesmo nos períodos nos quais se identificam fatores que em tese favorecem os investimentos, como a desaceleração da alta dos preços de máquinas, equipamentos, instalações e obras, os demais preços sobem menos.

O resultado desse fenômeno é resumido numa tabela na qual os pesquisadores do Iedi comparam a evolução dos preços dos investimentos com a dos demais preços da economia no Brasil e num grupo de países selecionados. O grupo inclui países industrializados, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França; asiáticos de rápido crescimento, como China, Cingapura, Malásia, Coréia do Sul e Vietnã; e países com nível de desenvolvimento comparável ao do Brasil, como os europeus Hungria e Polônia e os latino-americanos México, Argentina e Chile, entre outros.

O que essa tabela revela é que, entre 1970 e 2005, no item crescimento do preço dos investimentos em relação aos demais preços da economia, o Brasil apresentou o terceiro resultado mais alto. De uma base igual a 1 em 1970, o preço relativo do investimento fixo em termos do PIB no Brasil passou para 1,31 em 2005, inferior apenas aos da Tailândia (1,43) e da Irlanda (1,38). Na Argentina, registrou-se queda (índice 0,95 em 2005). Na Coréia do Sul, a redução foi ainda maior (0,60).

O estudo não avança no exame dos fatores que podem ter provocado o aumento do preço relativo dos investimentos no Brasil nas últimas décadas. O peso da tributação, o excesso de burocracia, a escassez de financiamentos de longo prazo e o alto custo dos empréstimos certamente estarão entre esses fatores, embora possam existir outros de maior peso para alguns setores da economia.

Se, como mostra o trabalho do Iedi, nas últimas décadas o investimento ficou mais caro do que o consumo de bens finais, por que alguém se sentiria estimulado a imobilizar recursos em máquinas e equipamentos para obter lucros num futuro incerto?

A pesquisa mostra que há pelo menos um motivo para animar os investidores. No ano passado, houve uma pequena redução de 1,5% no preço relativo do investimento no Brasil, em conseqüência da desoneração tributária, da redução da taxa de juro e da valorização do real em relação ao dólar, que barateou os equipamentos importados. Mas, como adverte o Iedi, se a queda não for mais acentuada daqui para a frente, será cada vez mais forte a tentação do empresário de investir lá fora.