Título: Véu islâmico torna-se fator de divisão no país
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2007, Internacional, p. A8
Mulheres que o usam queixam-se de discriminação; acessório é proibido em universidades.
Ninguém cede o lugar quando Sefika Yilmaz, usando seu véu islâmico, entra no ônibus atrapalhada com seus filhos, diz ela. Já no caso de uma mulher com a cabeça descoberta, muitos lhe oferecem seu lugar. Yilmaz, que vive em uma favela de Ancara, apoiou na eleição de ontem o partido governante Justiça e Desenvolvimento (AKP), com a esperança de que as mulheres devotas sejam mais respeitadas e possam usar o acessório com maior liberdade.
O véu islâmico virou um símbolo da luta que se trava na Turquia entre os secularistas - que defendem os valores da república de mais de 80 anos onde a religião foi banida da vida pública - e os que desejam mais liberdade religiosa, liderados pelo AKP.
As mulheres que usam o lenço na cabeça costumam dizer que ele é um obstáculo para obter emprego e educação e as torna alvo de preconceitos. O véu é proibido em universidades e várias repartições públicas na Turquia, e as advogadas que os usam não podem freqüentar os tribunais.
A vizinha de Yilmaz, Senem Sener, diz que é preterida em hospitais por usá-lo. 'Fui ao hospital e as mulheres descobertas eram tratadas com prioridade', disse a mãe de quatro filhos. 'As mulheres cobertas não recebem nenhuma atenção.'
Elas também têm de contrapor-se às alegações de que exigir o direito de usar o véu na universidade é o primeiro passo para transformar a Turquia num Estado islâmico.
Os turcos se orgulham de sua sociedade tolerante e não é incomum ver uma garota descoberta com amigas cobertas, ou mulheres da mesma família fazendo escolhas diferentes sobre o uso do lenço de cabeça.
'Somos amigas há 12 anos', disse Nur Gazan, de 23 anos, sobre uma mulher de véu em Istambul. 'Minha mãe usa e eu não. Não faz nenhuma diferença.'
Mas o lenço tornou-se um fator de divisão na Turquia, que está cada vez mais polarizada entre islamismo e secularismo.
'Se entro no ônibus e há muitas mulheres com a cabeça coberta, elas me olham como se eu fosse um inseto', disse Ayse Akpinar, uma estudante inglesa de 20 anos da Universidade de Istambul.
Os secularistas também dizem que o acessório está ficando mais comum em repartições públicas e as universidades estão sendo frouxas sobre a proibição - uma medida que, segundo eles, ameaça a liberdade de mulheres descobertas. Quando a revista americana Time exibiu recentemente uma mulher com véu na capa, muitos acharam que isso poderia manchar a imagem da Turquia no exterior.