Título: Controlador: 'Não somos terroristas'
Autor: Alves, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2007, Metrópole, p. C4

Profissionais do Cindacta-4 ficaram revoltados com suspeita de sabotagem levantada e depois negada pela FAB

A hipótese levantada por integrantes da Aeronáutica de que o apagão no Cindacta-4, ocorrido na madrugada de sábado, teria sido obra de sabotagem, deixou revoltados os controladores que atuam no controle do tráfego aéreo em Manaus. ¿Eles estão procurando uma válvula de escape ao jogar a culpa em cima da gente. Não existiriam meios físicos de realizarmos uma sabotagem. Não somos terroristas¿, disse um controlador do Cindacta-4, que pediu para não ser identificado. O Estado apurou, porém, que o comando da Aeronáutica já estaria convencido de que não houve ação premeditada dos controladores.

Segundo o controlador ouvido, 12 militares trabalhavam em Manaus quando o apagão aconteceu e nenhum deles poderia ter acesso à rede elétrica do Cindacta-4 para promover o desligamento de toda a rede de energia do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), onde funciona o centro de controle.

¿Esse sistema é um câncer. É obsoleto. Não temos culpa se os três geradores de energia do Cindacta-4 não funcionaram¿, disse o controlador.

Conforme outros militares que atuam no Cindacta-4, o clima dentro do centro de controle de tráfego aéreo ¿é o pior possível¿. O trabalho dos controladores está sendo vigiado pela Polícia da Aeronáutica (PA). Segundo eles, na sala do centro de controle há sempre um ou dois agentes da Aeronáutica, armados, monitorando o serviço de controle de aeronaves.

¿Qualquer um que se recuse a cumprir uma ordem vai direto para o xadrez¿, disse um controlador. ¿A PA fica querendo nos intimidar o tempo inteiro.¿

Segundo os controladores, a vigilância da PA sobre o trabalho dos militares começou desde que dez controladores foram afastados do Cindacta-4, há cerca de três semanas.

A presença dos agentes da PA no Cindacta-4 é um dos argumentos usados pelos controladores para garantir que seria impossível sabotar o sistema. Ontem, além de verem intensificado o número de policiais da Aeronáutica no centro de monitoramento de tráfego aéreo, os controladores também tiveram uma surpresa. Durante todo o dia, eles foram acompanhado pelo comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, que desembarcou em Manaus para acompanhar as investigações.

ENERGIA

A Manaus Energia, concessionária do serviço de distribuição de energia comercial na capital do Amazonas informou, ontem, que não houve registro de cortes no fornecimento na madrugada de sábado. ¿Não houve falta de energia. O problema (no Cindacta-4) foi de ordem interna¿, disse o diretor de Distribuição da Manaus Energia, Wenceslau Abtibol. Segundo os militares que trabalharam naquele horário, a energia faltou pela primeira vez por volta das 22h20. Daí, entraram em ação os no-breaks dos computadores do Cindacta-4. Os grupos geradores não funcionaram. Às 22h50, o fornecimento comercial de energia foi restaurado. Passaram-se mais 27 minutos e, às 23h17, houve nova queda de energia.

Nesse momento, as baterias dos no-breaks usados no primeiro corte não foram recarregadas e não funcionaram mais. E, no segundo corte, novamente os grupos geradores do Cindacta- 4 não entraram em ação. Foi nesse momento que o pânico tomou conta dos militares.

12 controladores estavam trabalhando no Cindacta quando teria faltado energia, segundo militar