Título: Famílias deitam na Washington Luís
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2007, Metrópole, p. C5

Protesto que começou em Congonhas bloqueou avenida por 5 minutos

Angustiados com os cinco dias de espera pela identificação dos parentes mortos no acidente do Airbus da TAM, familiares das vítimas fizeram ontem dois protestos contra o que eles acreditam ser uma demora do IML para liberar os corpos.

Logo após a missa na Catedral da Sé, no começo da tarde, eles foram o Aeroporto de Congonhas. Por cerca de cinco minutos, pararam os atendimentos nos balcões de check-in da TAM e, com os funcionários e passageiros de outros vôos, rezaram um pai nosso.

Em seguida, foram para a Avenida Washington Luís, em frente ao prédio da TAM Express onde o avião se chocou. Com o apoio de policiais militares, pararam o tráfego de veículos na avenida, por cinco minutos, para mais uma oração. Alguns chegaram a deitar na pista por alguns momentos.

Nos dois protestos, pacíficos, houve apoio de pessoas que estavam nos locais. Ao serem informados pelos que a suspensão do atendimento nos balcões de check-in tinha como objetivo chamar atenção das autoridades para a demora na liberação dos corpos, os passageiros aceitavam, sem reclamações. Na Washington Luís, a maioria dos motoristas manteve a calma durante o protesto. Alguns, porém, buzinavam, impacientes.

O médico Maurício Pereira, de 50 anos, que comandava as ações dos familiares, cobra maior agilidade na identificação dos mortos, entre eles sua filha, Mariana, de 22 anos. ¿ Por enquanto, nós não queremos saber de culpados, de indenizações, de nada. Queremos apenas nossos familiares.¿

Cada um tem uma explicação diferente para a demora na liberação dos corpos. O tio de uma das vítimas, que é médico, disse ter visto apenas dois médicos legistas e quatro dentistas trabalhando no IML anteontem à noite. A informação revoltou Luiz Antônio Salcedo, pai de Diogo Salcedo, de 25 anos, uma das vítimas. para ele, é preciso mais médicos.¿Meu filho está abandonado em caminhões- frigorífico¿, reclamou. ¿Não é possível que só 50 pessoas tenham sido reconhecidas.¿

Para Tereza Maliszewski, que perdeu a filha Katiane Lima, de 32 anos, os legistas estão dando prioridade às ¿autoridades na identificação dos corpos. ¿Políticos e pessoas importantes já foram reconhecidas¿, disse. ¿Enquanto isso, minha filha, uma simples analista de sistemas, está lá.¿ Ela se referia à identificação do deputado federal Júlio Redecker (PSDB) e do ex-presidente do Internacional, Paulo Rogério Amoretty.

Arlete Aparecida Ramos, irmã da vítima Arnaldo Batista Ramos, é uma das poucas não reclama. ¿Não acho que o trabalho seja lento. É algo que exige precisão.¿ Espírita, ela procura nem se revoltar com a morte do irmão. ¿Não quero saber de culpados e prefiro pensar que foi um ato de Deus.¿

O secretário estadual de Justiça, Luiz Antônio Marrey, disse que o Estado está fazendo tudo para agilizar a liberação dos corpos. Segundo Marrey, aumentar o número de médicos, que viriam de outros estados, não iria ajudar. ¿Não adianta chamar 300 médicos. Há um limite do que pode ser feito ao mesmo tempo e só iria atrapalhar¿ O secretário afirmou que a demora na identificação dos corpos se deve ao estado em que estão. Muito carbonizados, alguns talvez não sejam identificados nem com exame de DNA.