Título: Torre de Congonhas registrou 6 queixas de pilotos sobre pista
Autor: Reina, Eduardo e Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2007, Metrópole, p. C7

Reclamações foram feitas na véspera e no dia do acidente; pista principal será liberada amanhã

Pelo menos seis pilotos de aviões que pousaram no Aeroporto de Congonhas na segunda-feira, dia 16, véspera da tragédia com o avião da TAM, e no dia do acidente, reclamaram à torre de controle sobre a pista escorregadia. Foi formada uma cronologia que anunciava a maior tragédia da aviação brasileira. Às 18h50 do dia 17, cinco controladores estavam na torre, além de dois funcionários da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A Infraero anunciou a liberação da pista principal do Aeroporto de Congonhas para pousos e decolagens a partir das 6 horas de amanhã. A via foi periciada pela Polícia Federal nos últimos dias. Foi colhido material de prova em vários pontos, para análise do asfalto.

Dois controladores acompanharam visualmente o pouso do Airbus A320 da TAM. Um relatou que a aeronave ¿acelerou¿ após tocar a pista. Os dois funcionários da Anac - Ricardo M. Possidente e Jaime F. dos Santos Filho - faziam acompanhamento do movimento do aeroporto desde que os aviões entravam na pista, até chegar às pontes de acesso aos aviões (fingers). Possivelmente tenham visto também o pouso acidentado. Após a explosão, ambos deixaram a torre.

As reclamações do pilotos sobre a pista lisa, segundo os operadores de Congonhas, começaram na segunda-feira. Nesse dia, a chuva estava mais intensa. Às 7h30, o piloto do vôo da Gol 1879 reportou à torre após pousar que a ¿pista não estava grande coisa¿.

O controlador pediu para que fosse especificado o problema. ¿Pouca aderência¿, foi a resposta.Um minuto depois, foi a vez do piloto do vôo 3020 da TAM: ¿Pista levemente escorregadia.¿ O livro de ocorrência também tem registros de reclamações dos vôos 3461 da TAM e 1203 da Gol.

Como o Serviço Regional de Proteção ao Vôo (SRPV) determinou para que, em qualquer reclamação de piloto sobre irregularidades na pista, as operações fossem suspensas para avaliação pela Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero), foi solicitada inspeção às 12h25. Dezessete minutos depois um avião da Pantanal, vôo 4763, rodou no final da pista, após deslizar.

Ainda na segunda-feira, às 13h48, o avião da TAM, que fazia o vôo 3215, teve problemas. Só conseguiu parar no final da pista, por causa da pouca aderência, reportada à torre.

A fatídica terça-feira começou com uma discussão na troca do turno. A equipe de controladores que assumia o serviço relatou, durante a reunião de briefing, preocupação sobre as condições da pista e sobre as recorrentes reclamações dos pilotos. A resposta da chefia imediata foi que o superior (chefe do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo em São Paulo) seria informado. Uma reunião para discutir o assunto estava marcada para o dia 18.

No final da tarde, às 17h05, o comandante do vôo Gol 1697 reportou à torre que a pista se mostrava escorregadia. A chuva estava mais branda que na segunda-feira, e o nível de chuva entre 17 e 18 horas era de 1 mm, e de 0,6 mm entre 18 e 19 horas, segundo informações da Força Aérea Brasileira (FAB). As operações foram suspensas. Após a reclamação do piloto da Gol, foi pedida inspeção na pista. A verificação feita por técnicos da Infraero durou 13 minutos. As operações foram retomadas às 17h20.

Meia hora depois, o TAM 3054 se acidentou, matando quase 200 pessoas.