Título: Por unanimidade, Mesa aprova pedido de perícia sobre Renan à PF
Autor: Lopes, Eugênia e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2007, Nacional, p. A4

Agentes vão apurar se houve operações relatadas pelo senador, mas Tarso ressalta que não haverá quebra de sigilo

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sofreu ontem mais uma derrota, com a decisão unânime da Mesa Diretora da Casa de acatar o pedido do Conselho de Ética para aprofundar a perícia nos documentos que ele apresentou para comprovar ganhos de R$ 1,9 milhão com a venda de gado, em quatro anos.

O pedido foi entregue ao ministro da Justiça, Tarso Genro, pelo primeiro vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), que comandou a reunião da Mesa. Tarso se comprometeu a encaminhar, ainda hoje, ao diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, todos os questionamentos do conselho. Até agora, o ministro tem defendido Renan, sob a alegação de que ¿pessoas não podem ser execradas em público antes do julgamento¿. ¿O que eu quero para o País e o bom funcionamento das instituições é que Renan seja inocente¿, afirmou ele em entrevista no último dia 26.

Tarso lembrou que a PF restringirá seu trabalho às questões que não envolvam a quebra de dados sigilosos de Renan. ¿Uma investigação mais ampla dependeria da autorização do Supremo Tribunal Federal¿, afirmou. Ou seja, o trabalho dos peritos se restringirá aos documentos examinados pela PF no primeiro laudo, preparado em apenas dois dias, que ainda assim constatou que as informações fornecidas pelo presidente do Senado são inconsistentes.

Nesta segunda fase, os peritos pediram prazo mínimo de 20 dias para responder às 30 questões feitas pelos três relatores do colegiado. Entre elas a que pergunta se as operações de venda de gado citadas por Renan realmente ocorreram. A Receita da Atividade Rural do senador exibe cópias de extratos da entrada de dinheiro em sua conta, sem identificar os depositantes. Em cerca de 80 operações de venda de gado, constam os cheques de pagamento de apenas oito delas. Nas demais só há os recibos feitos aparentemente em série e os depósitos de valores que variam de R$ 4.260,00 a R$ 95.232,00.

Segundo Tião Viana, não houve nenhuma tentativa da parte dos senadores de obstruir a investigação. Tião ligou para Renan ao final das quase duas horas de reunião para comunicar o resultado. ¿Ele disse que já sabia e iria respeitar o resultado da Mesa¿, informou o petista.

As duas partes do processo, o advogado de Renan, Eduardo Ferrão, e a presidente do PSOL - autor da representação -, ex-senadora Heloísa Helena (AL), tiveram cada um 20 minutos para falar aos membros da Mesa. O advogado deixou o Senado sem dar entrevistas. De acordo com senadores, Ferrão criticou a atuação da polícia, por entender que estaria exorbitando sua competência ao investigar um parlamentar sem autorização do STF. Também foi duro na crítica a órgãos da imprensa, que segundo ele teriam decretado a condenação do senador.

O advogado pediu a exclusão da perícia de duas perguntas, as de número 16 e 18. Segundo ele, a solicitação de cotejar datas, números de notas fiscais e do talonário e a checagem das Guias de Transporte Animal (GTA) e das notas fiscais com a veracidade da venda de gado ocultaria uma ¿armadilha¿ contra seu cliente.

Já Heloísa Helena procurou deixar claro que não cabe à Mesa Diretora pôr obstáculos a nenhum pedido de investigação feito pelo Conselho de Ética. ¿Se agir nessa direção, estará rasgando a legislação e fazendo política de conluio¿, alegou.