Título: Governo deixou de agir na defesa da carne do Brasil
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2007, Economia, p. B5

Ministério da Agricultura teria rejeitado proposta do Itamaraty de reagir às acusações da Irlanda

Por causa de um desentendimento interno, o governo brasileiro não tomou providências por meses para se defender da pressão dos produtores de carne da Europa e agora terá de se apressar para reverter a imagem negativa criada na opinião pública européia em relação ao produto nacional.

Anteontem, o Parlamento Europeu aprovou uma moção pedindo o embargo completo e imediato da carne bovina brasileira por questões fitossanitárias. Apesar de o braço executivo da UE se recusar a adotar a recomendação, o impacto político e para a opinião pública deverá ser negativo para o País.

A moção foi adotada depois que deputados europeus receberam um relatório de uma investigação feita pelos produtores irlandeses sobre a situação da carne no Brasil. A Comissão Européia acusou o documento de conter informações 'incorretas e enganosas', além de não se basear em fatos científicos.

Os veterinários da Comissão deixaram claro que não há motivos para estabelecer o embargo. O problema é que, apesar disso, os setores mais protecionistas da UE preferem manter a dúvida sobre o Brasil e usam os argumentos dos produtores para fazer pressão política e criar um sentimento na opinião pública contrário ao produto.

No governo, o debate foi lançado há três meses, quando os produtores irlandeses produziram o documento da investigação. O Itamaraty defendeu que o setor privado e o governo respondessem ao relatório e abrissem uma campanha para evitar prejuízos. Uma recomendação foi feita pela missão do Brasil em Bruxelas e pela embaixada do País na Irlanda. 'A idéia era fazer uma blindagem preventiva', afirmou um negociador.

Mas o Ministério da Agricultura, supostamente apoiado pelo setor privado, decidiu não encampar a contra-ofensiva proposta pelo Itamaraty. O argumento era de que uma resposta oficial do governo ao documento dos irlandeses acabaria legitimando o relatório e dando uma importância não merecida ao documento.

A decisão tomada pelo governo foi apenas de enviar diplomatas para reuniões privadas com deputados europeus e outros funcionários da Comissão Européia para esclarecer a situação nacional. A tímida medida acabou não sendo suficiente.

'Ganhamos a batalha no campo científico, mas estamos perdendo no campo da opinião pública e em termos políticos', afirmou um funcionário do governo.

RESPOSTA

Diante da nova situação e do envolvimento do Parlamento Europeu, o governo já pensa em mudar sua posição. Uma estratégia estaria sendo elaborada para reverter a imagem negativa a partir de setembro, quando termina o período de férias de verão na Europa. A idéia é criar um ambiente e imagem positiva para que os inspetores da UE não acabem influenciados pela pressão política.

No final do ano, uma nova missão será enviada ao País para ver até que ponto o governo está implementando o que prometeu. 'O objetivo da campanha é criar um contexto positivo para as visitas programadas para os próximos meses', confirmou um funcionário em Brasília.

A Comissão Européia deu prazo até o fim do ano para o Brasil adequar suas políticas e, assim, evitar um embargo. Para os veterinários, a inspeção dos próximos meses será crucial para determinar o tratamento que a UE dará ao produto nacional.