Título: Para presidente, biodiesel é questão de soberania
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2007, Economia, p. B5

Lula garante que biocombustíveis serão uma realidade em 20 anos

O presidente Lula fez ontem uma defesa veemente do programa de biocombustíveis brasileiro. 'Podem chorar, brigar, contestar, contar mentiras contra o Brasil, inventar o que quiserem, nos próximos 20 anos os biocombustíveis serão uma realidade no Planeta Terra', disse Lula, em discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

Dois dos mais freqüentes críticos do programa brasileiro são os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba, Fidel Castro, além de entidades européias. No discurso, o presidente disse que pretende tornar a questão dos bicombustíveis 'ainda mais séria, dando status de soberania nacional à questão do biodiesel'.

Lula queixou-se de que, 'até agora', as pessoas tratavam do etanol 'com certo desdém' por ser uma coisa só brasileira. Mas lembrou que, 'na década de 90, produzimos 90% dos carros a álcool, que depois também desprezamos'. E comentou que é preciso encontrar um denominador comum para aperfeiçoar o programa do álcool, 'que nasceu no sufoco, em 1975'.

Lula reiterou que investir no biodiesel não significa que o petróleo vá acabar. 'Pelo contrário, também não queremos acabar, até porque a Petrobrás investe, cada vez mais, para o Brasil ser auto-suficiente', comentou. 'O que queremos mostrar é que a utilização do biodiesel é a forma mais eficaz de diminuir a emissão de CO2 (gás carbônico, responsável pelo aquecimento da atmosfera) e possibilita uma verdadeira distribuição de riqueza.'

'É preciso ter uma estratégia para que a gente se consolide não apenas pelo status de termos sido pioneiros, mas deter a estratégia correta para que a gente possa não apenas ajudar o Brasil, mas ajudar os países em desenvolvimento, os africanos e, obviamente, contribuir para o Planeta', disse Lula.

O CDES criou ontem um grupo de trabalho para discutir o assunto. A primeira reunião será em 16 de agosto. Para o presidente, o CDES terá 'um pepino nas mãos', pois precisará discutir a propriedade da terra. 'Teremos que discutir se essas terras poderão ser vendidas para estrangeiros ou terão de ficar nas mãos de brasileiros', disse.

Lula rechaçou as críticas de que os biocombustíveis provocarão a falta de alimentos. Segundo ele, se 850 milhões de pessoas passam fome no mundo não é por falta de alimentos, mas por falta de renda. Ainda em relação às críticas ao programa, Lula disse que os portugueses foram tão inteligentes que trouxeram a cana para o Brasil, mas não a levaram para a Amazônia.

O presidente disse ainda que é preciso vivenciar os dois lados da moeda para saber 'quanta coisa a gente fala sem ter informação'. Ele contou que, na sua época de sindicalista, falava coisas porque estavam na moda, mas não tinham substância. 'Porque, no concreto, a discussão não pode ser ideológica.'