Título: Bancos terão de elevar crédito para compensar queda de juros
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2007, Economia, p. B7

Opção é apostar em empréstimos com garantias, dizem especialistas

Os bancos devem apostar pesado na expansão do crédito (com garantias) para substituir os ganhos dos títulos públicos e manter o patamar elevado de seus lucros. Desde setembro de 2005, a taxa Selic, que remunera os papéis do governo, já recuou 7,75 pontos porcentuais, para 12% ao ano. Na reunião de hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a tendência das últimas reuniões e reduzir em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros.

Se o resultado se confirmar, o Brasil também deixará a liderança do ranking dos maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo, com uma taxa de 7,7% ao ano. Mais um indicador que reforça a necessidade de os bancos fortalecerem a carteira de crédito em vários segmentos, como pessoa física e pequenas é médias empresas. Esse movimento já foi iniciado, mas ainda está longe de suprir a demanda reprimida do País por crédito.

Segundo dados da Austin Rating, a participação dos empréstimos e financiamento na receita total dos bancos subiu de 45,1%, em 2004, para 47,6%, em dezembro do ano passado. Nesse mesmo período, o resultado de títulos e valores mobiliários recuou de 22,6% para 19,1%.

'As instituições financeiras não estavam acostumadas com o crédito no Brasil. Mas agora vão ter de aprender a ganhar dinheiro concedendo empréstimos', diz o presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), Alberto Borges Mathias.

O presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, avalia que o grande desafio dos bancos será crescer no crédito com qualidade, sem contaminar seus ativos. 'Nesse sentido, temos verificado um aumento dos produtos com garantias, que reduzem o risco de perda dos bancos', diz ele. Entre essas linhas de crédito, ele destaca o empréstimo consignado (com desconto em folha de pagamento) e o financiamento de veículos para pessoa física.

O movimento é confirmado pelo HSBC, que já verificou a migração para produtos com algum tipo de garantia. Na Losango, financeira do banco, uma linha que tem sido muito procurada é a que o consumidor pega dinheiro emprestado e dá como garantia um carro quitado. A vantagem desses produtos é que o risco diminui. Por isso, é possível oferecer uma taxa menor para o consumidor, comparada com as linhas tradicionais.

Um novo corte na Selic exigirá que resolução definindo o redutor a ser usado no cálculo da Taxa Referencial (TR) e, conseqüentemente, do rendimento da poupança, alerta o professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho. A resolução em vigor, de 5 de março, só é aplicável à Selic a partir de 12%.