Título: Segura, peão
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2007, Economia, p. B2

Ontem, dirigentes das entidades que cuidam dos interesses dos empresários voltaram a pressionar o governo para que detenha o desabamento do dólar.

O diretor de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca, reivindica mais demanda por dólares. As compras de US$ 67,7 bilhões pelo Banco Central, apenas este ano, não estão dando conta do serviço.

Segunda-feira, o Banco Central mostrou o que é a enxurrada que ingressa no País em Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs): US$ 10,3 bilhões apenas em junho; US$ 20,9 bilhões no primeiro semestre. Até agora, os analistas ligados às instituições empresariais argumentavam que a valorização do real (queda do dólar) prejudica o investimento, porque entrega cada vez menos reais por dólar trazido. Agora se vê que acontece o contrário: a maior confiança na condução da macroeconomia está atraindo mais capitais.

O afluxo vai aumentar e tende a empurrar o dólar para abaixo de US$ 1,80. Ontem, esta coluna já mencionou análise do Boletim da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). Lá ficou dito que os precedentes autorizam a esperar ainda maior entrada de capitais, tanto antes como depois da concessão de grau de investimento (baixo risco de calote) para a dívida brasileira.

O ex-diretor de Política Econômica do Banco Central Ilan Goldfajn lembrou ontem à Agência Estado que o mercado antecipa os movimentos e que, por isso, não se deve esperar por nova onda de investimentos externos depois do grau de investimento. Nos cinco casos apontados pela Sobeet, os afluxos se intensificaram depois.

Fiquemos com a hipótese de que o grau de investimento virá em 2008. Se houver proporção entre o que aconteceu nesses casos e no do Brasil, o volume de IED para cá aumentaria 238% nos dois anos depois de obtido o grau de investimento. Isso significaria US$ 85,5 bilhões por ano em 2009 e 2010. Exagero? Então fiquemos com o caso do México, que obteve apenas 79% a mais. Nesse caso, o Brasil receberia nesses dois anos US$ 45,3 bilhões em IED. (A previsão do Banco Central para 2007 é de US$ 25 bilhões). Será de enlouquecer dirigente da Fiesp...

Muitas são as variáveis que tornarão o Brasil um caso a parte. Fiquemos com dois a favor e dois contra. A favor da maior entrada estão a nova compulsão global por etanol e a necessidade de diversificar riscos por parte dos que descarregaram dinheiro na China e na Índia. Do outro lado, estão a falta de regras confiáveis de jogo (marco regulatório) e os excessivos custos de produção no Brasil.

Os empresários ainda acham que é a especulação com juros que bombeia dólares para dentro. Se é para levar a sério a reivindicação por aumento de demanda de moeda estrangeira, então seria imprescindível estimular as importações.