Título: Medo de crise derruba mercados
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2007, Economia, p. B1

A quinta-feira foi um típico dia de um movimento conhecido no mercado financeiro como 'flight to quality', ou vôo para qualidade. Com medo dos desdobramentos da crise imobiliária nos Estados Unidos, os investidores fugiram de ativos mais arriscados, como ações e moedas de países emergentes, e provocaram pesadas perdas nos mercados globais.

Por aqui, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve a terceira maior queda do ano, com desvalorização de 3,76%. O dólar teve a maior alta desde maio de 2006 - 3,27% -, para R$ 1,928.

O risco Brasil disparou 21%, para 221 pontos. O risco brasileiro se aproximou novamente da média dos emergentes, que ontem avançou 13%, para 223 pontos. O Índice Dow Jones recuou 2,26%, a bolsa eletrônica Nasdaq perdeu 1,84% e a Bolsa de Buenos Aires despencou 3,99%. A Bolsa de Londres caiu 3,15%, maior perda desde março de 2003.

Num movimento oposto, a demanda por títulos do Tesouro dos EUA, considerados os mais seguros do mercado, disparou. A taxa dos papéis de 10 anos caiu a 4,77%, ante 4,90% na 4ª-feira. Quanto maior a procura por esses bônus, menor a taxa.

Apesar do crescente nervosismo - terça-feira também foi um dia de fortes perdas nos mercados -, a maioria dos analistas ainda descarta a hipótese de uma crise financeira global. 'O movimento provavelmente será temporário', disse Ricardo Amorim, diretor do Banco WestLB (ler mais na pág. B3).

'A economia mundial ainda está firme e a liquidez internacional se mantém elevada', afirmou Joel Bogdanski, consultor de análise econômica do Banco Itaú.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentou o vaivém. 'Os fundamentos da economia nos permitem enfrentar essa turbulência, seja ela passageira ou não.'

Com o mercado já sensível, o fato que detonou a onda pessimista ontem foi o anúncio do grupo de fundos hedge australiano Absolute Capital de suspender temporariamente os resgates em dois de seus produtos. A empresa explicou que a medida se deveu à 'atual ausência de liquidez nos mercados globais de crédito estruturado'.

Parte dos investimentos do grupo está atrelada a títulos de crédito imobiliário do segmento subprime nos EUA. Nessa área estão clientes com histórico de inadimplência, o que aumenta a probabilidade de que não honrem os empréstimos.

Bogdanski estima que o mercado subprime some US$ 190 bilhões. Os prejuízos crescentes no segmento têm levado bancos a reduzir os empréstimos em outras áreas, principalmente para empresas. Analistas temem que esse movimento se intensifique, até virar uma crise de crédito, o que reduziria o crescimento global e acabaria com a onda de fusões e aquisições - um dos fatores que turbinaram as bolsas nos últimos meses.