Título: Para brigadeiro, manete pode ter contribuído para acidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2007, Metrópole, p. C6

Chefe do Cenipa diz que equipamento pode estar entre 'somatório' que levou à tragédia

Embora tenha ressaltado que não elimina nenhuma hipótese, o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, disse ontem que a pista principal do Aeroporto de Congonhas, as condições climáticas e o não funcionamento do reverso (equipamento que ajuda na redução da velocidade) da turbina direita dificilmente foram as causas principais do acidente com o Airbus A320 da TAM. Em depoimento à CPI do Apagão Aéreo da Câmara, em Brasília, o brigadeiro afirmou que uma possível causa é a posição errada do manete na hora do pouso.

O manete é uma espécie de alavanca, que passa a ter importância depois que o piloto desliga o sistema de aceleração, na hora do pouso. Na aterrissagem, o manete deve estar em ponto morto. Kersul lembrou que em muitos acidentes aéreos o 'fator humano' é determinante. 'O manete podia não estar no lugar certo', afirmou.

Os demais fatores levantados, como a condição da pista e o reverso pinado, poderiam ser 'um somatório' que levaria ao acidente, segundo Kersul. Ele disse ainda que 'muito dificilmente' o excesso de estresse pode ter causado a tragédia.

O problema com o manete pode estar registrado na caixa-preta que contém dados técnicos do avião da TAM e foi decodificada Washington. 'A caixa-preta revela a posição do manete', disse Kersul. Ele afirmou, no entanto, que a posição errada não significa necessariamente falha do piloto, embora sejam raros os casos de defeito no sofisticado sistema computadorizado de aviões como o Airbus.

A Airbus tem representante entre os técnicos que acompanharam a decodificação das caixas-pretas. Na segunda-feira, a empresa distribuiu comunicado reiterando à TAM e demais companhias que têm esse tipo de avião a necessidade de o manete estar em potência zero quando os pilotos pousarem com o reverso inoperante.

CAIXA-PRETA

O trabalho de extração dos dados das caixas-pretas do A320 da TAM terminou ontem na sede do Conselho Nacional de Segurança de Transportes (NTSB, na sigla em inglês), em Washington. Os representantes do Cenipa que acompanham o trabalho, incluindo o coronel Fernando Camargo, embarcaram para São Paulo, de onde seguem, hoje, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para Brasília.

Eles trazem documentos e transcrições do material contido nas caixas-pretas. Foram extraídos cerca de 60 parâmetros (dados técnicos) da caixa de dados, de um total de 580, e todo o material armazenado na caixa de voz. Os técnicos selecionam os parâmetros mais importantes para determinar as causas do acidente porque a extração de cada um leva quatro horas .

Na segunda-feira, no Cenipa, começa a organização desses dados, para reconstituir os últimos momentos do vôo 3054. Não há prazo para a conclusão do trabalho.

Embora tenha insistido em que as investigações de acidentes aéreos devam ser exclusivas da Aeronáutica, Kersul disse que repassará à CPI as informações da caixa-preta. A CPI aprovou requerimento para que a Aeronáutica entregue o conteúdo dos diálogos entre os pilotos e os dados técnicos das caixas-pretas. O presidente em exercício da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que os dados devem ser repassados 'nem que seja na marra'.