Título: A dívida interna continua crescendo
Autor: Vinhas, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2007, Economia, p. B2

As necessidades de financiamento do governo central, nos cinco primeiros meses do ano, foram de R$ 17,9 bilhões, segundo dados divulgados pelo Banco Central, e, segundo os dados divulgados anteontem pelo Ministério da Fazenda, no primeiro semestre a Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) cresceu R$ 195,4 bilhões, o que parece indicar que as emissões do Tesouro foram realizadas principalmente para pagar os juros da dívida, isso numa fase em que se poderia esperar que o peso dos juros mostrasse redução.

O que está ocorrendo é que a dívida mobiliária interna que já havia crescido 1,95% em maio, aumentou 2,1% em junho, ou seja, num valor absoluto de R$ 24,9 bilhões, apesar do forte aumento da arrecadação federal. No mesmo período a dívida externa federal acusou crescimento de R$ 1,06 bilhão, que em parte se deve à flutuação cambial. Caberia ao Tesouro explicar melhor o vínculo entre as necessidades de financiamento do governo federal e a emissão de títulos da dívida interna.

Essa dívida tem um custo bastante elevado para o Tesouro: em junho foi de 12,71% ao ano (incluindo os títulos cambiais), o que explica, em parte, a necessidade de emitir títulos para cobrir o seu custo.

As emissões dos papéis do governo federal em junho se distribuíram na proporção de 51,2% em títulos prefixados, cuja taxa de juros é ainda elevada - de 28% em papéis vinculados ao índice de preços e de 19,5% em títulos corrigidos pela Selic. Falta uma explicação clara sobre qual a vantagem de o Tesouro emitir títulos prefixados, uma vez que, aparentemente, a única vantagem é saber o custo efetivo das emissões, o que parece existir no caso de uma taxa Selic em declínio.

Apesar de uma melhora do perfil da dívida mobiliária interna, verifica-se que 97,60% da DPMFi vence em 12 meses, porcentual que em dezembro era de 97,28%. No caso dos papéis prefixados, essa porcentagem subiu de 52,12% para 56,40% no primeiro semestre. O prazo médio da dívida interna é de apenas 34,4 meses, enquanto o da dívida externa é de 74,21 meses, o que explica por que, mesmo diante do excesso da entrada de dólares, o Tesouro continua recorrendo ao mercado externo para captar recursos.

A relação da dívida com o PIB é, ainda, muito elevada. O crescimento do PIB permite, é claro, reduzir essa relação. Mas, seguramente, o ponto mais fraco de nossa situação é o prazo muito curto da dívida.