Título: 'Ministro precisa de autonomia'
Autor: Scinocca, Ana Paula e Nogueira, Rui
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2007, Metópolis, p. C4

Entrevista

Pedro Parente: ex-ministro-chefe da Casa Civil

Ele vê semelhanças com crise energética, avalia que situação poderia ter sido resolvida antes, mas elogia medidas adotadas

Para conseguir solucionar a crise aérea, o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, precisará de autonomia, principalmente no tocante a disponibilidade e distribuição de recursos. Mas também deve cercar-se das pessoas certas.

A opinião é do ex-ministro-chefe da Casa Civil Pedro Parente, que entre 2001 e 2002 esteve no comando da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE), que administrou o racionamento de energia e evitou o apagão elétrico no governo Fernando Henrique Cardoso.

As duas crises, na avaliação de Parente, têm semelhanças, já que se caracterizam por um desequilíbrio entre a oferta e a demanda. O ex-ministro, que hoje é vice-presidente-executivo do Grupo RBS, falou ao Estado sobre a crise do setor aéreo. A seguir, os principais trechos de sua entrevista:

O senhor, que foi o principal gestor da crise de energia elétrica no governo FHC, vê semelhanças entre aquela situação e a que o País enfrenta hoje no setor aéreo?

Eu acho que, havendo crise de oferta, e entendendo a oferta como disponibilidade de infra-estrutura, você tem de ajustar a demanda imediatamente. Então, nesse sentido, eu vejo que há uma similaridade entre a crise de energia e a atual crise do setor aéreo.

O que o setor aéreo precisa, então, é de um ajuste da demanda?

O ajuste da demanda é o que está sendo feito agora. Estão limitando os pousos em Congonhas e também está sendo feito o remanejamento (da malha aérea). É um setor em que os investimentos levam muito tempo para maturar. Para ter um aumento de oferta, você precisa de uma antecipação grande em relação ao início dos investimentos. E, se isso não acontece, você tem de ajustar a demanda. Pois não há como aumentar a oferta imediatamente.

Com base na sua experiência, acha que desafogar o Aeroporto de Congonhas e redistribuir a malha aérea é o caminho certo?

Não tenho dúvida de que é preciso dimensionar primeiro qual é a capacidade efetiva do sistema e ajustar a oferta a essa capacidade. E aí a demanda tem de acompanhar a oferta, não tem jeito. E essa questão se aplica não apenas à instalação física dos aeroportos, mas ao próprio sistema de controle de vôo. E isso é uma coisa que atinge não apenas Congonhas, mas todo o sistema.

O racionamento de energia começou em junho de 2001 e terminou em abril de 2002. Quanto tempo o senhor acha que vai levar para normalizar o setor aéreo?

Eu, sinceramente, acho que se fossem adotadas há um ano as medidas que estão sendo adotadas agora certamente a crise poderia ter sido resolvida em um prazo muito mais curto. Mas o que eu acho relevante é que, neste momento, o que parece é que essas coisas estão sendo feitas.

O que o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, precisa para enfrentar a crise aérea?

O que é fundamental para o novo ministro é que ele possa ter autonomia, em especial no que se refere a recursos. Isso foi muito importante no tempo da crise de energia elétrica. Ou seja, tem de ter prioridade efetiva e tem de se entender que, neste momento, a prioridade é muito grande para a regularização do sistema. Outro ponto fundamental no tempo do apagão elétrico foi incluir na câmara da crise as pessoas corretas. Não foi o trabalho de uma pessoa só, foi de uma equipe.

Na época do racionamento, o governo criou a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, presidida pelo senhor, que tinha a função de articular diversos agentes envolvidos no setor. A solução dos problemas na aviação também passa pela criação de um órgão que centralize a gestão da crise?

O comitê não é uma coisa indispensável, mas desde que o novo ministro tenha autonomia, se cerque das pessoas corretas e tenha, inclusive, prioridade na alocação dos recursos necessários.

Quem é: Pedro Parente

Foi ministro da Casa Civil no governo FHC e entre 2001 e 2002 comandou a Câmara de Gestão da Crise de Energia, que evitou o apagão elétrico

Ocupou a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda no início da gestão FHC

É vice-presidente-executivo do grupo de comunicação RBS