Título: Fidel indica que ainda manda
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2007, Internacional, p. A14
Líder cubano diz que o irmão sempre o consulta antes de tomar decisões.
Havana - Há um ano afastado do poder, o líder cubano Fidel Castro publicou ontem um artigo no jornal oficial Granma no qual garante estar sendo ¿consultado¿ por seu irmão mais novo, o presidente em exercício Raúl Castro, sobre todas as decisões relevantes do governo da ilha.
¿O próprio Raúl já se encarregou de dizer que, à medida que eu ia me recuperando, era consultado sobre cada decisão importante¿, afirmou Fidel. ¿Compartilho com o povo a satisfação de observar que Raúl, o partido, o governo, a Assembléia Nacional, a Juventude Comunista e as organizações de massa, lideradas por trabalhadores, marcham adiante, apegados ao princípio inviolável da unidade.¿
O artigo foi publicado apenas cinco dias depois de Raúl - visto como mais moderado que Fidel, principalmente no que diz respeito a questões econômicas - ter feito um discurso surpreendente, no qual defendeu reformas estruturais na ilha, prometeu maior abertura ao capital externo e se disse disposto a dialogar com o sucessor do presidente George W. Bush na Casa Branca.
¿Se a nova administração americana deixar de lado a prepotência e decidir conversar de modo civilizado, será bem-vinda¿, disse Raúl na ocasião. A proposta, porém, parece ter sido desautorizada por Fidel no artigo de ontem. ¿Que ninguém tenha a menor ilusão de que o império (os EUA) vá negociar com Cuba¿, escreveu o líder cubano.
Em 31 de julho de 2006, Fidel, hoje com 80 anos, passou o poder para Raúl para ser submetido a uma cirurgia de emergência no intestino. Desde então, o líder cubano não aparece em público, mas há cerca de 4 meses ele vem escrevendo artigos no Granma, numa tentativa de participar da vida política.
MAIS DE 30 EDITORIAIS
Até agora, Fidel já assinou 33 editoriais sobre os temas mais diversos - desde o projeto dos EUA e do Brasil para desenvolver um mercado mundial do etanol até a divulgação de documentos sobre planos do serviço secreto americano para assassiná-lo na década de 60. Ele também tem aparecido em fotografias e vídeos na mídia estatal.
O artigo publicado ontem, intitulado ¿A chama eterna¿, foi interpretado por muitos analistas como uma espécie de despedida definitiva da política tradicional. ¿Algumas afirmações dão a entender que Fidel se contenta em limitar esta etapa de sua luta ao campo das idéias, deixando que o restante do país lute na prática¿, opina Julia Sweig, diretora do programa de estudos latino-americanos no Council on Foreign Relations, em Washington. ¿Ele está dizendo que a vida continua sem Fidel e está cômodo no novo papel de `sábio-chefe¿.¿
O líder cubano se disse ¿perturbado¿ com as perguntas sobre quando voltará ao poder. ¿O último ano valeu por dez e me permitiu acumular informações e conhecimentos sobre questões vitais para a humanidade¿, escreveu.AFP E EFE
OS PRINCIPAIS ARTIGOS DE FIDEL
>>29/3 e 4/4: Nos dois primeiros artigos publicados, Fidel Castro diz que plano dos EUA e do Brasil de promover uso do etanol aumentará a fome mundial
>>8/5: Líder cubano culpa EUA pela tentativa frustrada de dois cubanos de seqüestrar um avião para fugir para Miami
>>10/5: Fidel volta a criticar o etanol, dizendo que produzir combustível a partir de alimentos é uma ¿idéia trágica¿
>>26/6: Fidel acusa presidente dos EUA, George W. Bush, de ter ordenado sua morte ¿antes de arrebatar a vitória em 2000 fraudando outro candidato (Al Gore)¿
>>30/6: Líder cubano comenta afirmação feita na véspera por Bush de que ¿um dia, o bom Senhor levará Fidel¿. ¿Agora compreendo porque sobrevivi aos planos de Bush e de outros presidentes que ordenaram meu assassinato: o bom Deus me protegeu¿ , escreveu
>>2/7: Em editorial de três páginas, Fidel acusa governo dos EUA de ocultar métodos ilegais que a CIA usaria até hoje contra seus inimigos políticos
>>11/7: Fidel diz que reformas adotadas nos anos 90 são responsáveis por ¿desigualdades irritantes¿ que causam ¿descontentamento¿ no país
>>1/8: Fidel afirma que irmão o consulta sobre as decisões mais importantes do país