Título: Cristina Kirchner lança candidatura
Autor: Palácios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2007, Internacional, p. A10
Em grande estilo, primeira-dama argentina dá hoje passo inicial para manter a dupla no poder até 2015
A senadora e primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner será hoje, no início da noite, a única oradora do comício de lançamento de sua campanha presidencial. O evento será realizado no elegante Teatro Argentino de La Plata, onde se acotovelarão governadores, parlamentares e prefeitos da sublegenda kirchnerista Frente pela Vitória, do Partido Justicialista (peronista), além de diversos representantes da União Cívica Radical (UCR) que decidiram aderir nos últimos meses ao governo de Néstor Kirchner. No total, mais de 2 mil pessoas presenciarão o pontapé inicial da inédita tentativa de que uma primeira-dama suceda ao marido na presidência da república por meio das urnas. As eleições serão no dia 28 de outubro.
A senadora estará sozinha no palco, decorado apenas com uma bandeira argentina e um telão que amplificará a imagem da candidata. Seu marido estará sentado na primeira fila da platéia. O evento será transmitido ao vivo com uma parafernália de câmeras, holofotes e gruas dignas da noite do Oscar.
Cristina não pretende ver os clássicos ¿bumbos¿ peronistas embalando seu discurso nem grupos de militantes cantando - símbolos clássicos do lado populista do peronismo. A primeira-dama pretende dar uma versão mais moderna do partido.
O governo, para evitar turbulências políticas no dia do comício, encarregou-se de realizar nos dias prévios uma rápida ¿limpeza¿ no gabinete. Na segunda-feira, Kirchner removeu Felisa Miceli do cargo de ministra da Economia, envolvida num escândalo de corrupção conhecido como ¿banheirogate¿. Além disso, deu explicações (algo raro no governo) sobre outros funcionários suspeitos de corrupção, negando que estivessem envolvidos em negociatas.
Nos últimos dias, Cristina participou de reuniões empresariais, entrega de casas populares, lançamento de novos modelos de automóveis e, ontem, da cerimônia de homenagem às 85 vítimas do atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia).
O objetivo do casal Kirchner é alternar-se no poder até 2015. Se Cristina for eleita, a idéia é manter o marido ocupado na criação de um novo partido. Em 2011, ele sairia candidato à sucessão da mulher. ¿É um casal ambicioso, que sabe o que quer¿, disse ao Estado Olga Wornat, autora de Rainha Cristina, a biografia não autorizada da primeira-dama.
`ESTILO K¿
O governo foi abalado desde o início do ano por uma série de escândalos de corrupção, a escalada da inflação e a crise energética. No entanto, esses fatores não conseguiram - por enquanto - provocar uma séria queda nas intenções de voto para Cristina. Se as eleições fossem realizadas hoje, ela teria, segundo diversas pesquisas, cerca de 45% dos votos. As duas principais candidaturas da oposição - a de Elisa Carrió, da aliança centro-esquerdista Coalizão Cívica; e a do ex-ministro Roberto Lavagna, do partido Uma Nação Avançada - não passariam, respectivamente, de 17% e 16%.
O ¿Estilo K¿ é a denominação da forma de agir sem papas na língua de Kirchner. O presidente não hesitou em aplicar a estratégia que ele próprio definiu de ¿bater primeiro para depois conversar¿. Os analistas indicaram que ela também poderia ser enquadrada como ¿usar uma bazuca para matar uma mosca¿ (isto é, mostrar reações sobredimensionadas diante de crises). As vítimas desse estilo foram os presidentes dos países vizinhos, organismos financeiros internacionais, multinacionais e as empresas privatizadas.