Título: Amorim ataca, mas insiste no acordo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2007, Economia, p. B8

EUA também rechaçam teto de subsídios em US$ 13 bilhões, o que estaria dentro da criticada proposta da OMC

O chanceler Celso Amorim ataca a proposta de cortes de mais de 60% nas tarifas de bens industrializados apresentada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), mas insiste que o País continuará a negociar para encontrar pontos de convergências. O ministro ainda alerta que, se os americanos não acatarem a sugestão de estabelecer um teto de US$ 13 bilhões em seus subsídios, a própria Rodada Doha estará em risco.

Ontem Amorim esteve em Bruxelas para reuniões com os europeus e teria chegado a um entendimento sobre o ponto de partida em que as negociações poderiam ser retomadas a partir de setembro. Mas, em Washington, a Casa Branca afirmava que o teto de US$ 13 bilhões para seus subsídios era 'inaceitável'. 'Se isso for verdade, que os americanos assumam o ônus de sair das negociações. É uma pena que não aceitem esse número. Se a maior economia do mundo não quer acordo, não teremos acordo', afirmou o chanceler.

Na quarta-feira, a OMC apresentou o que seria um pacote de acordo comercial entre os 150 países. A proposta prevê cortes de mais de 60% nas tarifas de importação de bens industriais nos mercados emergentes, um teto que variaria entre US$ 13 bilhões e US$ 16,4 bilhões nos subsídios americanos e um corte de até 73% nas barreiras européias para bens agrícolas.

Os americanos, porém, alertaram ontem que os países devem esquecer qualquer possibilidade de que o teto fique em US$ 13 bilhões, o que estaria mais perto da proposta brasileira, de US$ 12,5 bilhões. Para Amorim, US$ 13 bilhões estaria perto do razoável. A outra opção - de US$ 16,4 bilhões - estaria 'longe demais' dos objetivos do País, segundo Amorim.

Tudo indica, pelas reações de ontem, que o processo será duro. Se o chanceler critica sem meias palavras os Estados Unidos, ele também deixa claro que adotará uma posição dura no setor industrial. Originalmente, a proposta brasileira era de que o corte não poderia ser de mais de 50%. 'Temos problemas com as propostas. Não é o ideal e não estamos satisfeitos', afirmou Amorim.

O chanceler acusa as propostas da OMC de serem 'desequilibradas', já que pediria muito dos países emergentes e ofereceria ainda uma quantidade insuficiente no corte de tarifas para o setor agrícola. 'A proposta é mais ambiciosa na área industrial do que em acesso a produtos agrícolas', disse Amorim.

Os ataques também vieram dos americanos. Em um artigo publicado ontem no The Wall Street Journal, o embaixador americano na OMC, Peter Allgeier, colocou em questão a liderança do Brasil e Índia entre os países emergentes por causa das conferências de Potsdam, há um mês, que acabaram em fracasso. 'Se não acham que somos líderes, que encontrem outros', respondeu Amorim.

Apesar das críticas, o chanceler garante que não está desistindo de negociar. 'Espero que haja margem e espaço para que possamos negociar', afirmou, após um encontro com o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson. O encontro foi agendado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma conversa com a chanceler alemã Ângela Merkel, para não deixar o processo simplesmente morrer.

Ontem os negociadores teriam chegado a identificar 'bases de entendimento' e alguns números a partir dos quais retomariam o diálogo. 'A reunião foi útil e terminou em um tom positivo. Concordamos em trabalhar de forma construtiva em Genebra na próxima semana', afirmou Mandelson.