Título: Câmbio e crise hipotecária nos EUA
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2007, Economia, p. B2

As fortes flutuações da taxa cambial, vinculadas à crise do mercado de crédito hipotecário nos EUA, certamente levaram o público brasileiro a se perguntar o que é, afinal, que uma coisa tem a ver com a outra. O que requer uma explicação dos fatores que afetaram a taxa cambial nos últimos dias.

Do lado da compra e venda de divisas, a atuação dos especuladores estrangeiros foi diametralmente oposta à dos exportadores brasileiros.

Os especuladores estrangeiros faziam grandes operações de arbitragem que consistem em vender dólares e comprar reais para aplicar no mercado nacional, onde os juros são mais elevados. Luiz Sergio Guimarães, no jornal Valor, calculou que, de janeiro a julho, o real subiu 11,89% em relação ao dólar, e a isso se deve acrescentar juros de 7,08% pagos pela Selic, o que terá dado, aos especuladores, um lucro bruto de 19,79% em 7 meses, equivalente à rentabilidade que oferecem os ¿treasuries bonds¿ do governo americano em 3 anos e 8 meses.

Esses especuladores, principalmente ¿hedge funds¿, financiavam as operações do mercado secundário hipotecário nos EUA e aplicavam seus recursos nas taxas de juros brasileiras. Diante das dificuldades e incertezas daquele mercado, não estão mais atuando nas operações de arbitragem no Brasil, fato evidenciado na redução de US$ 2,740 bilhões na posição vendida dos bancos em julho. A essa saída de recursos dos especuladores se somaram as saídas, nos últimos dias, do dinheiro estrangeiro na Bovespa.

Isso explica a relativa subida do dólar (desvalorização do real) que, na outra ponta, levou os exportadores a venderem suas divisas à vista, aproveitando também para internar recursos que mantêm no exterior, em contas permitidas pela legislação, aumentando, assim, a oferta no mercado cambial nacional. Aumentaram também suas operações de Adiantamentos de Contrato de Câmbio, imaginando que a melhora das taxas pode ter curta duração. É provável ainda que os importadores tenham postergado compras na expectativa de uma rápida normalização do mercado.

Vê-se, assim, que as operações de comércio exterior (ofertando dólares) contrabalançam, parcialmente, os efeitos das compras de dólares pelos especuladores .

Na terça-feira, o balanço dessas operações fortaleceu o dólar, cuja cotação subiu tanto na BM&F quanto no balcão. O que tudo indica é que a volta dos especuladores ainda vai demorar.