Título: Kahn: crise dos EUA é só imobiliária
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2007, Economia, p. B6

Candidato ao FMI se reúne com Lula e diz que não há risco de recessão, mas economia global deve ficar atenta.

Brasília - O candidato - por enquanto, único - ao cargo de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse ontem que não há uma recessão nos Estados Unidos, e sim um problema sério no mercado imobiliário.

¿Nos últimos cinco anos, não tivemos nenhuma crise, mas isso não significa que, em um mês, um ano, ou cinco anos, seja impossível que nós enfrentemos algum tipo de crise financeira¿, disse o francês, após deixar o Palácio do Planalto, onde apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua candidatura para substituir o espanhol Rodrigo de Rato, que deixará a direção do Fundo Monetário em outubro.

Segundo Kahn, não existe risco de recessão nos Estados Unidos, mas a economia global deve estar atenta ao que está ocorrendo nos mercados nesse momento. ¿É importante que instituições como o Fundo existam, porque pode haver, no futuro, instabilidade financeira¿, advertiu.

Falando em tom mais eleitoral, Kahn disse, porém, que, além de se preocupar com a estabilidade macroeconômica, o FMI deveria começar a se preocupar em combater a pobreza.

CRITÉRIOS

Questionado sobre a proposta brasileira de mudança nos critérios de eleição para a direção do FMI, que excluem das decisões os países emergentes e garantem sempre a um europeu o cargo de presidente da instituição, Kahn disse que é a favor de alterações, mas não explicitou quais.

Segundo ele, o atual modelo em que os europeus escolhem o diretor-gerente do FMI, e os americanos o presidente do Banco Mundial foi estabelecido no período seguinte ao fim da 2ª Grande Guerra, e pode ser perfeitamente adaptado aos novos tempos, em que países da América do Sul e da Ásia têm mais peso na economia mundial.

¿Eu já disse que esse acordo em que os americanos escolhem o presidente do Banco Mundial, e os europeus o diretor-gerente do FMI, é ultrapassado. O mundo mudou, e a forma de escolha dos representantes dessas instituições multilaterais deve mudar também. É claro que isso não significa que seja impossível para um europeu ser candidato¿, afirmou Kahn.

A reunião com o presidente Lula, segundo o francês, foi cordial e calorosa. Além do Brasil, Kahn promete visitar mais 80 países, entre sul-americanos, africanos e asiáticos. ¿Hoje não existem outros candidatos, mas é possível que venha a ter¿, disse Kahn.

O francês tentou não comentar a ameaça do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de deixar o Fundo, mas acabou deixando escapar sua opinião: ¿É lamentável¿.

O representante brasileiro no FMI, economista Paulo Nogueira Batista, também participou do encontro, ao lado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas deixou o Planalto sem fazer declaração.