Título: Crise transborda para Executivo e Judiciário
Autor: Scinocca, Ana Paula., Fontes, Cida e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2007, Nacional, p. A4

Renan já foi a Lula, pedindo apoio, e quer jogar processo para o Supremo

A resistência política dentro do Senado para investigar o presidente do Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez com que a crise transbordasse do Congresso e se espalhasse pelos três Poderes. Para aumentar seu escudo de proteção, Renan recorreu ao Executivo, ao procurar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, pedindo apoio para salvar o pescoço. E, para driblar o processo dentro do Conselho de Ética, ele e seus aliados tentam jogar o caso para deliberação do Judiciário, mais precisamente do Supremo Tribunal Federal, onde a tramitação dos casos políticos costuma ser lenta.

¿Do jeito que estão fazendo as coisas, Roriz vai acabar sendo o relator do caso Renan¿, ironiza o líder da minoria na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS), referindo-se ao senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), acusado de participação numa partilha de R$ 2,2 milhões que seriam do Banco de Brasília (BRB).

A preocupação de Redecker, que defende o afastamento de Renan da presidência, mostra que a Câmara foi também contaminada pela crise do Senado. Dentro do Congresso, votações importantes como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) já estão ameaçadas por causa da possível presença de Renan comandando a sessão, uma vez que cabe ao presidente do Senado a condução dessas reuniões. E sem a aprovação da LDO os parlamentares não poderão entrar em recesso.

¿Como o presidente do Senado preside as sessões do Congresso, será um constrangimento para os deputados terem de votar a LDO numa reunião presidida por ele. Então, não sei se essa votação transcorrerá de forma normal. Renan precisa se afastar da presidência do Senado, enquanto a investigação sobre seu caso é feita¿, reforça o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

No Judiciário, a situação do caso Renan é incômoda. A possibilidade de empurrar o processo para o Supremo e alongar ainda mais seu desfecho já provocou uma manifestação do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cézar Britto, que defendeu o licenciamento de Renan da Presidência, até que sua situação fosse esclarecida.

Para o presidente interino da OAB, Vladimir Rossi Lourenço, a forma com que o caso de Renan vem sendo tratado no Senado é ¿ruim para a própria imagem do Congresso¿. O arquivamento do caso ou novas protelações e até a remessa do processo diretamente para o Judiciário também seriam soluções negativas, segundo Lourenço.