Título: Lula cogita reconduzir Rondeau ao ministério
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2007, Nacional, p. A6

Presidente avalia que o peemedebista, que saiu de Minas e Energia sob suspeita de receber propina da Gautama, está sendo ¿injustiçado¿

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau (PMDB) foi ¿injustiçado¿ pela Polícia Federal e já chegou a dizer, em reuniões reservadas, que poderá até mesmo reconduzi-lo ao cargo. Lula só não bateu o martelo porque foi aconselhado a aguardar novos resultados de perícias que contestam conclusões da PF. O argumento de seus auxiliares é de que qualquer decisão sobre o assunto agora - na esteira do caso envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - seria chamar nova crise para o Planalto.

O desconforto de Lula com a situação que empurrou o ministro para fora do governo, no entanto, é cada vez maior. Rondeau foi abatido pelo escândalo da Operação Navalha em maio, acusado de ter recebido, dois meses antes, propina de R$ 100 mil da empreiteira Gautama. A denúncia teve como ponto de partida um vídeo do ministério, mostrando Maria de Fátima Palmeira, diretora da Gautama, ao lado de Ivo Almeida Costa - que assessorava Rondeau - com um papel na mão. A PF diz tratar-se de um envelope com R$ 100 mil, que teria sido entregue a Rondeau por meio de Costa.

Na semana passada, laudo assinado pelo perito Ricardo Molina, da Unicamp, sustentou que Costa segurava um papel em branco ou um envelope vazio. Outro instituto de criminalística, acionado por Rondeau, teria chegado a conclusão semelhante.

Padrinho do ex-ministro, o senador José Sarney (PMDB-AP) tem dito nos bastidores que vai exigir uma retratação da Polícia Federal. Até hoje Lula não nomeou o novo ministro de Minas e Energia, embora o PMDB tenha indicado para a vaga, em maio, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético da pasta, Márcio Zimmermann.

Auxiliares de Lula ouvidos pelo Estado afirmam que, quando as operações da PF são mencionadas, ele sempre cita Rondeau. ¿Ninguém provou nada contra esse rapaz¿, disse Lula, semana passada, segundo um ministro.

Ao fazer um discurso com críticas à PF e ao Ministério Público, na quinta-feira, Lula teve a intenção de defender Renan, que estava a seu lado. Mas não foi só: interlocutores do presidente garantiram que ele também escancarou ali sua contrariedade em relação às apurações envolvendo Rondeau.

Com a indefinição em torno do ministro de Minas e Energia, todas as nomeações para o comando de importantes estatais do setor, como Furnas, Eletrobrás, Eletronorte e Eletrosul, estão congeladas. O atraso na montagem do segundo escalão tem irritado as duas alas do PMDB. Na tentativa de apaziguar os ânimos, Lula deverá assinar hoje o pacote de nomeações na Caixa Econômica Federal. Estão na lista o ex-governador do Rio Moreira Franco, que será vice-presidente de Benefícios e Loterias da Caixa, e Carlos Antônio de Britto. Indicado para a vice-presidência de Pessoas Jurídicas, Britto é afilhado do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), que está sob investigação.