Título: Amorim não crê em saída da Venezuela
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2007, Economia, p. B6

Ministro quer que o ingresso do país no Mercosul seja rápido

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que 'não espera' que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, apresente um pedido de retirada de seu país do Mercosul. A ameaça de Chávez tornou-se mais enfática no sábado, quando já havia terminado a 33ª Cúpula do Mercosul, em Assunção (Paraguai).

Nessa ocasião, o líder venezuelano, que não participou do encontro, declarou que seu governo retiraria o pedido de adesão plena se não houvesse como superar as resistências da 'direita brasileira'.

'Espero que isso não ocorra', disse Amorim, ao final da posse do embaixador Ronaldo Sardenberg na presidência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 'Espero que as condições de ingresso da Venezuela sejam preenchidas para que possamos rapidamente concluir esse processo.'

No sábado, em Minsk (Belarus), Chávez declarou novamente que seu país não estava disposto a aderir ao 'velho Mercosul'. 'Se não podemos entrar no Mercosul porque a direita brasileira tem mais força, então nos retiramos. Sou até capaz de retirar o pedido de adesão', disse.

Para Amorim, a atitude de Chávez não se reflete em pressão sobre o Brasil. 'Não há pressão. Primeiro, o Brasil não é suscetível a pressões. A Venezuela tem uma contribuição positiva a dar. A diversidade de opiniões é uma riqueza que é boa para o Mercosul', observou.

A adesão plena da Venezuela foi um ato político consolidado em um protocolo firmado pelos cinco países do bloco, em julho de 2006. Desde então, a Venezuela é um membro pleno em processo de adesão, que participa dos encontros, mas não tem direito a voto nem precisa cumprir deveres. Argentina, Uruguai e Venezuela já obtiveram a aprovação de seus respectivos legislativos ao documento.

As dúvidas sobre essa decisão inflamam o Congresso brasileiro, que mantém a tramitação do protocolo congelada há quatro meses, enquanto o governo do Paraguai nem sequer enviou o documento ao Parlamento. A principal pendência está na ausência de compromissos da Venezuela com a liberalização do comércio com o Brasil e a Argentina.

Essas negociações vêm sendo empurradas por Caracas. As recentes acusações de Chávez contra o Senado brasileiro - apontado como 'papagaio' do Congresso dos Estados Unidos - pioraram o cenário.

Com o cuidado de não entrar no jogo de acusações, Amorim reiterou que o presidente venezuelano deveria enviar uma 'palavra de simpatia' ao Congresso brasileiro para distender o cenário. 'Simpatia sempre ajuda, assim como a compreensão das diferenças', insistiu.