Título: Problema do câmbio é culpa dos EUA, diz Lula
Autor: Lopes, Elizabeth e Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2007, Economia, p. B10

'Como eles são muito grandes, as pessoas não têm coragem de falar', afirmou o presidente, na Scania

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu aos Estados Unidos os problemas do câmbio no Brasil. Em discurso entusiasmado para centenas de funcionários da fabricante de caminhões Scania - que comemorou ontem 50 anos de atividade no País -, Lula respondeu a uma cobrança sutil do presidente da montadora para a América Latina, Michel de Lambert, que havia dito que a sobrevivência das empresas depende basicamente de crescimento interno e câmbio competitivo. 'O problema do câmbio, a gente tem que dizer, é um problema do déficit fiscal dos Estados Unidos, que eles precisam consertar. Como eles são muito grandes, as pessoas não têm coragem de falar.'

Segundo o presidente, o real não está valorizado em relação ao euro, por exemplo. 'O real está valorizado com relação ao dólar porque o dólar está desvalorizado em relação a todas as moedas do mundo.' E ironizou: 'Falam como se eu pudesse inventar um número mágico. O câmbio flutuante flutua, caso contrário, teríamos de criar um câmbio para vários setores, e isso não existe'.

Lula também voltou a elogiar o desempenho da economia brasileira. Disse que está colhendo os frutos de sacrifícios feitos nos primeiros anos de mandato e insistiu que não existe a menor possibilidade de o País não crescer, independentemente do cenário externo ou interno: 'Não há possibilidade de a economia brasileira não crescer e não gerar emprego, riqueza e renda. Mas, para chegar a isso, tivemos de comer o pão que o diabo amassou'.

Ao lado dos ministros Luiz Marinho (Previdência) e Miguel Jorge (Desenvolvimento), Lula foi recebido como convidado de honra na Scania, quase 30 anos depois de ter liderado na porta da mesma fábrica as negociações da primeira greve após o regime militar.

Para Lula, nunca existiu nos 118 anos de República um momento em que o País apresentasse tal sustentabilidade econômica. 'Quantos empresários imaginaram que teríamos US$ 146 bilhões em reservas, US$ 47 bilhões em superávit comercial e a inflação estável, de 3,7% ao ano?'. E continuou: 'Não existe mágica em economia, o que existe é seriedade, visibilidade e credibilidade'.

Em mais uma tentativa de demonstrar que não cederá a pressões de países desenvolvidos em negociações comerciais, o presidente fez uma forte defesa da posição adotada pelo Brasil na Rodada Doha. Lembrando que se negou a reduzir tarifas de bens industriais sem obter em contrapartida a diminuição de subsídios agrícolas, Lula afirmou que o Brasil deixou para trás os tempos da 'subserviência' e aprendeu a assumir sua grandeza. E caracterizou como 'absurda' a proposta dos Estados Unidos de ampliar o limite de subsídios agrícolas para US$ 17 bilhões, depois de terem sido mantidos em R$ 15 bilhões nos últimos três anos e em R$ 11 bilhões somente no último ano.

Ao justificar o discurso, Lula voltou a se dizer convencido de que o Brasil será uma grande economia mundial no século 21. 'Chega de ser pequeno, chega de ser o país do futuro, chega de ser a esperança do mundo, chega de ser um monte de adjetivos que nunca se concretizaram. Nós agora vamos concretizar', afirmou, insistindo que falaria de improviso para que seu discurso tivesse 'mais emoção'.

'Eu digo sempre que respeito é bom. A gente gosta de dar e gosta de receber. E o mundo precisa aprender que o Brasil resolveu assumir sua grandeza territorial, com sua grandeza e seu comportamento político.' Segundo ele, esse enfrentamento só se tornou possível por causa do quadro econômico formado no seu governo.