Título: Montadoras americanas são superadas pelas estrangeiras
Autor: Maynard, Micheline e Bunkley, Nick
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2007, Negócios, p. B12
Pela primeira vez, GM, Toyota e Chrysler têm menos mercado nos EUA que as rivais de fora.
O domínio das companhias de Detroit no mercado de automóveis americano terminou em julho, quando as péssimas vendas deram, pela primeira vez, a liderança às empresas estrangeiras. As tradicionais marcas americanas de propriedade da General Motors, Ford Motor Co. e Chrysler Group detiveram 48,1% do mercado em julho, segundo a Autodata Corp., uma empresa de estatísticas do setor. Isso significa que as companhias estrangeiras detinham 51,9% do mercado.
O recorde anterior das estrangeiras tinha sido registrado em junho, com 49,8% das vendas de automóveis. Em julho do ano passado, as empresas de Detroit tinham 52% do mercado americano. 'O mundo está mudando', disse Ron Pinelli, presidente da Autodata. 'Todos nós crescemos com a grandeza da General Motors e a noção de que essas companhias eram infalíveis. Agora os tempos são outros.' As marcas estrangeiras estão à frente das de Detroit nas vendas de automóveis desde novembro de 2000. Mas a ampla vantagem nas vendas de picapes, utilitários esportivos e minivans manteve as companhias americanas à frente no mercado geral.
Porém, a popularidade dos utilitários esportivos começou a cair em 2005, depois que os preços da gasolina dispararam. Neste ano, com a gasolina acima de US$ 3 o galão (3,78 litros) em muitas partes do país, as vendas de picapes grandes também caíram, o que ajudou as empresas estrangeiras a assumir a dianteira no total de vendas.
John Casesa, analista do setor no Casesa Shapiro Group, afirmou: 'Isso aumenta a urgência de uma situação já extremamente frágil em Detroit.' O controle das marcas estrangeiras começou num mês em que até mesmo as principais companhias japonesas, Toyota e Honda, anunciaram pequenas quedas nas vendas. Mas os declínios das companhias de Detroit foram maiores. Como resultado, a classificação das companhias foi GM, Toyota, Ford, Honda e Chrysler.
Desde o início do ano parecia provável que as fabricantes estrangeiras acabariam ultrapassando as de Detroit nas vendas mensais. Um motivo é que as empresas de Detroit reduziram voluntariamente as vendas não lucrativas a locadoras de automóveis. Outro é que elas vêm restringindo incentivos como abatimentos, financiamentos com juros baixos e leasings com desconto, na esperança de desacostumar os consumidores. Essa estratégia, de fato, ajudou a GM e a Ford a registrar lucros no segundo trimestre apesar dos prejuízos em suas operações americanas.
Mas a virada das estrangeiras foi outra frustração num setor que já passou três décadas enfrentando o crescente desafio das companhias japonesas, coreanas e européias - que construíram quase duas dúzias de fábricas nos Estados Unidos, enquanto Detroit fechou dezenas. 'Provavelmente não é tão significativo, mas é um golpe psicológico contra os egos das fabricantes domésticas', afirmou Jesse Toprak, analista do Edmunds, website que aconselha os consumidores na compra de veículos.
ESFORÇOS
Paul Ballew, principal analista de vendas da GM, reconheceu que os problemas do setor dificultam ainda mais a reestruturação das operações da companhia. Ele disse que a GM vai 'acelerar os esforços de reestruturação onde for apropriado', mas não ofereceu detalhes.
As maiores companhias americans, GM e Ford, tiveram quedas significativas nas vendas em julho: 19,1% e 16,7%, respectivamente. A queda na Ford é mais um revés para a companhia, que está no meio de um programa de reestruturação chamado O Caminho Adiante. 'Estamos empolgados com nosso progresso e com a resposta dos consumidores a nossos novos produtos', afirmou Mark Fields, presidente da Ford para a região das Américas. 'Ao mesmo tempo, sabemos que há muito a fazer, e julho é um lembrete sério dos desafios econômicos e competitivos que temos pela frente.'
Neste ano, as vendas da Ford já registram queda de 13% e as da General Motors, queda de 9,9%. Em contraste, as vendas da Toyota estão em alta de 5,5% no ano.
MERCADO
General Motors: A GM, ainda a líder no mercado americano, teve queda de 19,1% nas vendas em julho em relação ao mesmo mês de 2006
Toyota: A montadora japonesa, que assumiu o segundo posto nos EUA, teve queda de 3,5% nas vendas em julho
Ford: A fabricante americana, que hoje ocupa a terceira colocação no ranking americano, registrou vendas 16,7% menores
Chrysler: A empresa, recém-comprada pelo fundo Cerberus, teve queda de 4,6% nas vendas
Honda: A montadora japonesa teve queda de 3,25 nas vendas
Nissan: As vendas da fabricante japonesa cresceram 5,9%