Título: Apagão pára indústria argentina
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2007, Economia, p. B1

As atividades de mais de 300 indústrias argentinas de vários setores estão totalmente paradas e outras 700 estão parcialmente paralisadas por falta de energia elétrica e gás. Ontem pela manhã, o ministro de Planejamento Federal do país, Julio De Vido, chegou a anunciar a intervenção por 180 dias na distribuidora de gás Metrogas ¿por manejo pouco eficiente da prestação de serviço. Porém, horas depois, o governo voltou atrás suspendendo a intervenção e um novo diretor-geral foi nomeado para a empresa. Para o lugar de Roberto Brandt foi indicado Vito Camporreale, executivo da Repsol YPF.

De acordo com De Vido, a medida foi adotada como advertência com base no cumprimento da Lei de Abastecimento. Na quinta-feira à noite, a companhia cortou o fornecimento de gás para as indústrias de Buenos Aires. Segundo fontes do mercado, Brandt não mantinha uma boa relação com o governo por causa de forte pressão oficial contra a empresa.

Mas a crise de energia da Argentina, que o presidente Néstor Kirchner insiste em negar, pode ser bem mais grave. O número de empresas paradas, divulgado ontem, baseado em levantamento feito pela União Industrial Argentina , é considerado muito otimista pelo ex-secretário de Energia da Argentina, Daniel Montamat. Em reunião com a Associação de Correspondentes Estrangeiros, Montamat afirmou que ¿o número de indústrias paradas já é muito maior¿. Outras 4.000 ainda funcionam, mas em média com abastecimento de energia 40% menor.

Os setores mais atingidos são o siderúrgico, de celulose, cimento, químico, alimentos e de autopeças. Os cortes de energia são programados pelo Comitê de Emergência de Energia, que aplica às empresas suspensões diárias por 8 horas.

A Argentina precisa diariamente de 18 mil megawatts (MW) de energia. No entanto, por causa da crise, só consegue uma oferta de 16 mil MW. Segundo Montamat, a situação poderá se agravar ainda mais na semana que vem, ¿já que poderiam deixar de funcionar três hidrelétricas instaladas na Patagônia. Para o ex-secretário, os 1.030 MW que a Argentina passa a importar do Brasil a partir de hoje não podem ser considerados um fornecimento firme, o que aumenta as incertezas. Além disso, o país tem um déficit de 25 milhões de metros cúbicos de gás diários.

¿A Argentina tem pela frente mais dois ou três anos de crise energética¿, afirmou Montamat. ¿Mas, atenção! Três anos se começarem a fazer a tarefa de casa, isto é, liberando as tarifas das empresas privatizadas de serviços públicos, combustíveis, atraindo investimentos para o setor energético e implementando um sistema de prêmios e castigos para os consumidores residenciais¿.