Título: Caos aéreo leva Gol a reduzir plano de expansão da frota
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2007, Negócios, p. B14

Empresa previa chegar a 2012 com 152 aviões, mas diminuiu esse número para 143

O caos nos aeroportos brasileiros surtiu seu primeiro grande efeito nos planos das companhias aéreas. A Gol anunciou ontem uma redução no ritmo de crescimento de sua frota. Em vez de 152 aviões, ela pretende ter 143 até 2012. A decisão também inclui a Varig, adquirida pela empresa este ano. A mudança de rumo da Gol é resultado direto da falta de infra-estrutura aérea, que não tem permitido que a demanda de passageiros cresça como se previa há um ano.

Pelos cálculos da Gol, o número de passageiros no mercado doméstico brasileiro vai crescer 12% em 2007 e 2008. Segundo analistas de mercado, antes do caos nos aeroportos começar, a expectativa era de 16% - a crise foi deflagrada a partir de setembro, após o acidente envolvendo um avião da Gol. ¿O nosso plano de frota permite que atendamos à demanda esperada do mercado de transporte aéreo no Brasil, América do Sul, América do Norte e Europa¿, afirmou em comunicado o vice-presidente técnico da companhia, David Barioni Neto.

Para o analista do Banco ABN AMRO Real, Pedro Galdi, esse é o impacto mais visível até agora da crise no planejamento das companhias aéreas. ¿Essa revisão é bastante prudente. Não adianta comprar por comprar se não existe espaço nos aeroportos¿, afirma Galdi. ¿É bem provável que a TAM faça o mesmo.¿

REAÇÃO

Embora a nova estratégia tenha sido bem recebida por analistas, os investidores reagiram mal ao comunicado. As ações da Gol fecharam em baixa na sexta-feira. A desvalorização foi de 3,36%, uma das maiores de ontem, enquanto o índice Bovespa subiu 0,91%. As ações da TAM subiram 0,88% no dia.

Há cerca de quinze dias, a Gol já havia reduzido a previsão de receitas e de lucro por ação para 2007. Em vez dos R$ 6,1 bilhões originais, a expectativa de receita caiu para R$ 6 bilhões. O grupo reviu o lucro por ação para entre R$ 3,70 e R$ 4,20, abaixo da faixa de R$ 4,20 a R$ 4,70 prevista anteriormente. A mudança contemplava resultados esperados da Varig.

MEDO DE AVIÃO

Desde o quarto trimestre do ano passado, as duas maiores companhias aéreas do País, a TAM e a Gol, vêm desacelerando o ritmo de crescimento por conta da redução da demanda - já que as pessoas agora trocam o avião pelo carro ou pelo ônibus por medo de atrasos e cancelamentos de vôos.

¿No primeiro trimestre, o resultado foi pior ainda. Mesmo tendo feito um bom trabalho de redução de custos, que aumentaram por conta da crise, o yield (receita por passageiro por quilômetro voado) caiu muito em relação ao ano anterior¿, diz o analista do Banco Santander, Caio Dias.

Segundo o analista, a queda da demanda forçou as empresas a baixar tarifas para manter a taxa de ocupação perto do nível aceitável, que é de 70%. No caso da Gol, o yield foi 20% menor que no ano passado, diz ele. ¿Enxergo como uma estratégia de redução de custos, uma demonstração de que a Gol quer operar com eficiência. Avião parado traz um custo monstruoso.¿

Até começar a crise aérea, a Gol tinha um plano agressivo de aumento de frota. O mercado crescia a taxas nunca antes vistas, em torno de 20% ao ano, e a companhia ainda tinha um desempenho acima da média da aviação.

Pelo novo plano, a Gol vai terminar o ano de 2007 com 103 aviões, um a mais que o previsto anteriormente (ela acrescentou dois Boeing 767-300 e eliminou um 737-300). A expectativa inicial era terminar 2012 com 152 aviões. Agora, em vez de comprar 51 aeronaves, vai incorporar somente 40 entre 2008 e 2012. Segundo o comunicado da Gol, as revisões no plano devem reduzir a idade média da frota e os custos de manutenção.