Título: Arrecadação de impostos indica maior crescimento da economia
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2007, Economia, p. B1

Setores-chave da economia tiveram aumento de mais de 20% no pagamento de tributos no primeiro semestre.

Levantamento feito pela Receita Federal, a pedido do Estado, sobre a arrecadação de impostos e contribuições federais pagos por setores econômicos no primeiro semestre revela um dinamismo ainda maior da economia brasileira em 2007.

Sem que tenha havido aumento de alíquotas dos tributos, as empresas dos setores de metalurgia, automóveis, seguros, telecomunicações e comércio atacadista lideraram o ranking dos setores econômicos que apresentaram maior crescimento no pagamento de impostos, com expansão entre 18,51% e 35,83%. Esses valores estão bem acima do aumento de 10% da arrecadação total da Receita Federal no primeiro semestre deste ano.

Como a arrecadação de tributos é um dos principais termômetros do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), os números setoriais sinalizam que o crescimento este ano pode ser ainda mais robusto, acima das previsões dos analistas econômicos. É que os dados por setores econômicos funcionam como uma espécie de bússola de orientação para onde caminha a economia brasileira.

Os setores que estão apresentando bom desempenho de arrecadação neste ano ou refletem diretamente o aquecimento da atividade econômica do País, caso do comércio atacadista, ou tem efeito irradiador sobre amplas áreas da economia nacional, como a indústria de automóveis.

Para economistas ouvidos pelo Estado, o aumento da arrecadação de vários setores econômicos reflete, sobretudo, o aumento da oferta de crédito na economia, que faz com que muitos consumidores antecipem o consumo, levando à expansão das vendas, da produção e, conseqüentemente, dos tributos pagos pelas empresas.

É o caso, por exemplo, do setor automobilístico. Impulsionada pelo aumento de 20,4% no volume de vendas no mercado interno, a arrecadação dos fabricantes de automóveis subiu 26,91% no primeiro semestre, atingindo R$ 9,68 bilhões. Na mesma onda em que surfam as montadoras, a arrecadação de outros setores econômicos também tem aumentado com a expansão do mercado interno.

A arrecadação das empresas de seguros teve alta de 22,35%, o terceiro maior crescimento, seguido pelo setor de telecomunicações que pagou 22,24% mais impostos no primeiro semestre. O aumento da arrecadação no setor de comércio atacadista também foi elevado: 18,51%.

PUJANÇA DA ECONOMIA

Enquanto as empresas do setor de combustíveis recolheram 4,69% menos tributos, refletindo o impacto da taxa de câmbio nas suas receitas, as empresas de metalurgia pagaram 35,83% mais no primeiro semestre como reflexo de preços favoráveis no Brasil e no mercado internacional. Foi o maior aumento verificado no primeiro semestre.

'Os dados batem perfeitamente com outros indicadores econômicos que vêm sendo divulgados. Tivemos nos últimos quatro anos aumento do crédito. Os consumidores ficam mais otimistas e antecipam o consumo', argumenta o economista do banco Itaú, Joel Bogdanski.

Para o economista Amir Khair, especialista em assuntos tributários, os dados mostram uma pujança muito grande da economia brasileira. 'Acho que vamos nos surpreender com o crescimento do PIB maior no final do ano', aposta Khair.

Um dos dados que mais chamou atenção do economista foi o crescimento da arrecadação dos setores de comércio atacadista, varejista e das instituições financeiras. 'O crédito é a mola propulsora da economia', ressalta ele.

Khair também destaca o aumento de 17,11% da arrecadação das empresas fabricantes de produtos de informática, setor que foi desonerado pelo governo. 'Isso mostra que a desoneração é benéfica para o crescimento', afirma Khair, que defende um corte nas alíquotas nos principais tributos.

Pelos cálculos do economista, cerca de 1,5 ponto porcentual do aumento da arrecadação pode ser atribuído à maior eficiência da máquina da Receita no combate à sonegação. O restante, se não houver aumento de alíquotas, é fruto do crescimento econômico.

Com a expansão do crédito, a arrecadação do Imposto de Renda (IR), Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), PIS e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), subiu 9,52% nos primeiros seis meses do ano, chegando a R$ 13,75 bilhões.

As instituições financeiras lidaram o ranking das empresas que mais pagaram esses quatro tributos no primeiro semestre, ultrapassando o setor de combustíveis.

BANCOS

De acordo com dados da arrecadação total da Receita Federal, o setor financeiro também está na primeira colocação, mas esse número é distorcido pela arrecadação da intermediação financeira dos seus clientes com a CPMF e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Para o assessor de assuntos tributários e contábeis da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian, o aumento da arrecadação do setor financeiro vem da expansão das operações de crédito, que até maio chegaram a R$ 786 bilhões ante R$ 732,5 bilhões em dezembro de 2006.

Em dezembro de 2005, as operações de crédito somavam R$ 607 bilhões. 'O aumento do negócio em si explica esse crescimento da arrecadação nacional', diz Vian.

Na opinião do economista, mesmo com o aumento das operações de crédito, os dados mostram que a carga tributária que incide sobre as instituições financeiras é bastante elevada.

Pelos cálculos da Febraban, diz Vian, 34% do total de receitas obtidas pelas instituições financeiras vão para os cofres do governo federal com o pagamento de tributos federais.