Título: Dinheiro do crime vira brinquedo
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2007, Nacional, p. A8

Casa do Cristo, em Itaquera, é uma das entidades beneficiadas pelo programa da Justiça.

Yasmin e Kawan, ela 5 anos, ele quase 2, faziam terapia no pequeno salão azulejado que o sol da zona leste de São Paulo iluminava na manhã de quinta-feira. Munique e Kelly, educadoras, distraíam as crianças com paciência, carinho e colo, e a elas ofereciam brinquedos coloridos, chocalhos, bolas, bonecas e bonecos de pano. É assim o dia-a-dia do Criando Asas, programa que a Casa do Cristo Redentor mantém para 65 pequenos de 0 a 6 anos com necessidades especiais - paralisia cerebral e síndrome de Down.

A Casa do Cristo fica em uma chácara de Itaquera. É uma das 15 entidades que a Justiça escolheu para repassar o dinheiro dos réus colaboradores. Tem meio século de história, desde que foi fundada, nos anos 50, pelo casal Mathilde Rocha Barros e Nelson Lobo Barros. Hoje dependem da instituição 535 crianças e adolescentes.

Além do Criando Asas, a casa toca outros 4 núcleos de atividades - um deles para meninos e meninas que a Justiça tirou de seus lares, onde eram vítimas de maus tratos e desvios de pais alcoólatras e mães despreparadas. Trezentos voluntários e 87 funcionários efetivos dedicam-se à Casa do Cristo.

'Ficamos maravilhados com o dinheiro da Justiça', diz Lucia Felix Zannon, administradora da entidade que, como as outras, vive do esforço de empresários e doações minguadas do poder público. O jeito é contar com as doações. Todo mês chega algum tipo de ajuda de 7 empresas - Dualtec Informática, Logic Engenharia e Construção, Area Signs Comunicação Visual, Garmarin, Porte Construtora, Karinie Bidart e Gráfica Malaquias.

Cheio de planos e sonhos, Antonio Carlos Laferreira, o Toninho, presidente da instituição, faz as contas. A entidade vai receber uma parcela de R$ 100 mil e três de R$ 63 mil. 'A gente vai concluir a reforma da creche. Vamos receber mais 83 crianças em agosto. Queremos uma horta orgânica e reciclar material. Nosso ideal maior é tocar um projeto de auto-sustentabilidade da casa.'

'Foi uma surpresa muito positiva', comemora Emília Tanaka, coordenadora de captação de recursos e parcerias da Fraternidade Irmã Clara, nos baixos do viaduto Pacaembu, onde vivem 35 portadores de paralisia cerebral em estado severo. Com 59 funcionários e 150 voluntários, Irmã Clara investe R$ 100 mil por mês só na manutenção da casa, à qual a Justiça destinou R$ 750 mil. 'Isso nos deu ânimo muito grande', diz Emília, referindo-se ao projeto de construção da nova sede em um terreno de 3 mil metros quadrados na Barra Funda.