Título: Amazônia em foco na reunião da SBPC
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2007, Vida &, p. A29

Começa hoje, em Belém (PA), o 59.º encontro anual da entidade

A 59ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) começa hoje à noite, em Belém (PA), sob o desafio de colocar a Amazônia na pauta de ciência e tecnologia brasileira. A importância estratégica da região - fronteira com sete países, lar da maior floresta tropical do mundo e um dos locais mais biodiversos ainda existentes - não se reflete em investimentos federais para a construção do conhecimento sobre o local feito por e para a população brasileira.

Na Amazônia estão apenas 1.200 dos pesquisadores-doutoreCristina s brasileiros, sendo que cerca de 10 mil são formados no Brasil anualmente. Calcula-se que 70% da produção científica sobre a região seja feita por cientistas estrangeiros.

É um debate antigo e infelizmente atual. 'Os mesmos 2% da verba nacional em C&T que eram aplicados na região há 20 anos são os mesmos 2% aplicados hoje', diz o presidente da SBPC, o físico Ennio Candotti. Por outro lado, a demanda por conhecimento existe. 'No último vestibular da Universidade Federal do Amazonas, havia 20 mil inscritos', afirma Candotti.

A procura pelas reuniões promovidas nos últimos dois anos nos Estados do Norte pela SBPC foi acima do esperado. Cinco mil pessoas já se inscreveram para participar do evento que começa hoje. Os organizadores acreditam que o número pode dobrar até a sexta-feira, quando a reunião termina.

A expectativa é de que o ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, fale sobre a inclusão da Amazônia no Programa de C&T de Aceleração do Crescimento (PAC) na palestra inaugural da reunião. Este seria o principal indicativo de que o tema fará parte também do Plano Plurianual 2008-2012, que está sendo construído pelo governo federal.

'É de onde vem realmente o dinheiro', diz a diretora do Museu Goeldi, Ima Vieira. A instituição, criada no século 19 e ligada ao MCT, é um dos principais centros de produção científica da Amazônia. Ainda assim, ela afirma: 'Faltam programas estratégicos em ciência e tecnologia na região.'

Os desafios não são poucos. Segundo estudo do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon, uma ONG voltada para pesquisa, que sobrevive com financiamento nacional e internacional), 47% do local estava sob algum tipo de pressão humana em 2002. 'Hoje há duas cabeças de gado aqui por habitante', afirma Ima.