Título: Rodovias privatizadas vão receber R$ 20 bi
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2007, Economia, p. B3
Valor seria atingido 25 anos depois da concessão de estradas a empresas
Os 2.580 quilômetros de extensão dos sete lotes de rodovias que serão concedidos à iniciativa privada, em outubro, deverão ter um expressivo salto de qualidade nos próximos anos. A expectativa é que, nos 25 anos de concessão, as empresas vencedoras invistam cerca de R$ 20 bilhões na melhoria das vias e duplicação de áreas consideradas de alto risco, como é o caso da Serra do Cafezal, na BR-116, em São Paulo.
O efeito desses investimentos na economia é multiplicador, já que cria uma série de outros negócios. Pesquisa feita pela FIA/USP mostra que os municípios cortados pelas estradas licitadas no Estado de São Paulo, por exemplo, tiveram crescimento acima dos demais. O crescimento do número de empregos formais ficou 37% acima do restante do Estado e a abertura de novos estabelecimentos foi 15% superior ao restante do Estado.
Nas concessões federais, o resultado não deve ser diferente, até porque envolve regiões de forte atividade econômica, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Por isso, os representantes do setor esperam que o processo de licitação das estradas não pare por aí. O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), José Alexandre Rezende, disse que o governo estuda a concessão de cerca de 15 mil quilômetros de vias federais à iniciativa privada ou a recuperação por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Além disso, as BRs 116 e 324, na Bahia, serão licitadas ainda este ano. ¿O País investiu muito pouco em rodovias nos últimos anos. Precisamos recuperar o tempo perdido para evitar que os gargalos da infra-estrutura afetem o crescimento econômico¿, defende o presidente da Associação Nacional do Transporte de Carga & Logística (NTC), Geraldo Vianna.
SINAL VERMELHO
Para ele, se em 2008 a economia crescer no mesmo ritmo deste ano, o Brasil correrá sério risco de ter de dar um passo atrás. ¿Paga-se muito caro pela falta de investimentos. Basta crescer um pouco mais para que se acendam todas as luzes vermelhas.¿ De acordo com a última pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 75% das rodovias analisadas estão em estado deficiente, ruim ou péssimo. O sinal de alerta vem sendo dado há um bom tempo. Apesar disso, poucas melhorarias foram feitas, com exceção das rodovias privatizadas. O professor do Centro de Logística da Coppead, Paulo Fleury, destaca que uma boa malha rodoviária vai além de uma pista de qualidade. ¿Depende de fiscalização, regulação e controle¿.
Ele destaca que 85% dos acidentes ocorrem em rodovias com pavimento considerado bom. ¿Os motoristas querem ganhar o tempo perdido nas estradas ruins, correndo mais nas boas¿, explica. ¿Por isso, é necessário um conjunto de medidas para diminuir os acidentes nas rodovias. Além disso, as leis precisam ser postas em práticas, como a cassação da carteira por excesso de multa.¿
Fleury observa que 47% dos acidentes são tombamentos de caminhões, o que reflete a falta de fiscalização nas estradas. A explicação é o excesso de carga, combinado com a alta velocidade.
A alternativa encontrada pelo governo paulista para garantir que a concessão pudesse se traduzir em índices menores de acidentes foi a implementação do Plano de Redução de Acidentes (PRA). Segundo a Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), o índice de acidentes nas rodovias concedidas teve redução de 8% e o de mortos, 25,8%.
Mas o Brasil precisa de muito mais. Calcula-se que o custo anual de acidentes rodoviários no País esteja na casa de R$ 22 bilhões, segundo estudo preparado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No mundo, o valor chega a US$ 517,7 bilhões, conforme levantamento feito pela Coppead/UFRJ. Esse é o resultado de um total de 880 mil mortos em acidentes rodoviários em todo o mundo, sendo 81,8% nos países pobres e em desenvolvimento.