Título: Pistas ruins e tráfego pesado criam armadilha
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2007, Economia, p. B4

Número de mortos em estradas federais cresceu 15% em julho

A tragédia com o Airbus da TAM serviu também para escancarar o morticínio nas estradas federais do País. Apenas em julho, durante as férias escolares, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 11.316 acidentes, com 6.933 feridos e 686 mortos. Em relação a 2006, o número de mortos subiu 15,49% e, segundo a PRF, um dos fatores que contribuíram significativamente para esse resultado foi justamente o caos aéreo.

Como normalmente ocorre, Minas Gerais, dona da maior malha federal do País (cerca de 10% de um total de cerca de 67 mil quilômetros), lidera o ranking de acidentes e mortos. Em julho, foram 1.960 acidentes, com 117 mortos.

Embora duplicado, o trecho da BR-381(Fernão Dias) que liga a capital mineira a São Paulo, incluído no anúncio do governo federal do leilão de privatização, não escapa dessa realidade. A rodovia apresenta elevado índice de acidentes e problemas estruturais em decorrência da má conservação e desgaste da pista. Só neste ano, de janeiro a junho, foram registrados 2.175 acidentes e 74 mortos.

Na saída de Belo Horizonte até o entroncamento da BR-262, em Betim, o tráfego intenso de veículos leves e pesados e a pista irregular tornam o trecho um dos mais perigosos das BRs que cortam o Estado, de acordo com a PRF.

A reportagem do Estado percorreu na quinta-feira cerca de 200 quilômetros da rodovia a partir da capital mineira. A sinalização está em boas condições, mas as irregularidades no asfalto exigem atenção dos motoristas. Evidência de acidentes constantes, em alguns pontos, o ferro retorcido da proteção central divide as pistas. Mesmo antes do período chuvoso, buracos já começam a surgir. A reclamação mais comum dos caminhoneiros é quanto às ¿cabeças de ponte¿, como são chamados os desníveis nas passagens.

Há pelo menos dez anos, usuários, comerciantes e moradores da área de influência da Fernão Dias ouvem falar da concessão à iniciativa privada de um dos principais corredores da produção econômica do País. ¿Desde quando passou a estrada eles estão privatizando¿, comenta, incrédulo, Dirceu Andrade, que há 18 anos aproveitou as terras da antiga fazenda do pai para montar uma lanchonete nas margens da rodovia, em Itatiaiuçu.

Perto dali, na altura do quilômetro 535, um posto de pedágio construído há cerca de uma década, quando da conclusão da duplicação, é retrato do abandono. Metade da estrutura foi derrubada por um caminhão desgovernado e as pilastras até hoje estão no chão. Os escritórios, que chegaram a ser ocupados pela PRF, foram depredados e atualmente servem de abrigo para andarilhos.

Na BR-116, em São Paulo, a situação não é diferente. O trecho mais precário fica entre os quilômetros 336 e 367, a Serra do Cafezal. Lá, onde o fluxo de caminhões é intenso, a pista é única e o número de acidentes, bastante elevado. ¿Semana passada mesmo morreram duas pessoas numa batida entre um automóvel e um caminhão¿, comentou Gilberto Nóbrega, trabalhador de um guincho que fica no pé da serra.

O principal desafio de quem ficar com esse trecho será duplicar a pista na Serra do Cafezal, localizada em área de Mata Atlântica. Para iniciar as obras, o investidor enfrentará fortes resistências dos ambientalistas. ¿Mas não tem jeito. Terá de ser duplicada, pois é muito perigosa¿, afirma o superintendente de exploração de infra-estrutura da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), Carlos Serman.