Título: 'Próximo caos será nas estradas'
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2007, Economia, p. B5
Especialista alerta para o crescimento dos acidentes e mortes por causa das condições das pistas brasileiras
¿Tenho a impressão de que a seguir ao caos aéreo teremos o caos rodoviário¿, alerta Paulo Resende, especialista em logística e diretor de Desenvolvimento da Fundação Dom Cabral. ¿Teremos um acréscimo nos índices de acidentes e mortes devido às condições da pista.¿
As estatísticas de acidentes no mês de julho coincidem com a previsão de Resende. Segundo A Polícia Federal, 686 pessoas morreram em acidentes nas rodovias federais, um aumento de 15,49% em relação a 2006.
Aeroportos e rodovias chegaram ao estrangulamento pela mesma razão: expansão da economia, do emprego e da renda do brasileiro.
A infra-estrutura passou as duas últimas décadas sem receber investimentos significativos devido à crise fiscal do Estado. O resultado é que ela não atende à demanda.
¿As estradas são o maior gargalo que temos¿, afirmou Resende. Ele avalia que o governo não ignora o problema, tanto que incluiu diversas rodovias no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), prometeu avançar com as concessões de estradas à iniciativa privada e listou outras rodovias como possíveis obras a serem financiadas por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP).
O problema é que tudo vai muito devagar. O PAC, observa Resende, concentra investimentos em energia. Para os transportes estão reservados R$ 58 bilhões, que serão investidos ao longo de anos. Boa parte desses recursos é privada.
As concessões, por sua vez, andam tão devagar que no setor privado a avaliação é que não vão se concretizar, apesar das declarações favoráveis do governo. Segundo empresários do setor, posições historicamente defendidas pelo PT contra às concessões à iniciativa privada são o maior empecilho.
Para Resende, o investimento em logística deveria ser tratado como questão de Estado. ¿Não é algo que possamos decidir se vamos fazer ou não. Tem de fazer, seja com a ideologia que for.¿
AEROPORTOS
Na avaliação dele, as medidas anunciadas pelo governo para contornar o caos nos aeroportos têm um grave problema: são todas de emergência. ¿Não vejo discussões sobre um modelo de gestão para o modal aéreo¿, disse. Nesse modelo, ficaria claro quais são investimentos prioritários nos próximos dez anos. ¿Se tivéssemos discutido o modal aéreo há dez anos, hoje não teríamos os problemas de pista que estamos vendo em Guarulhos.¿
Ele sugere a criação de um grupo encarregado de apresentar um modelo de longo prazo para os aeroportos. O Ministério da Defesa informou que o estudo de ações de médio e longo prazos foi aprovado no dia 30.