Título: 'Setor privado é pragmático, prefere o lucro fácil'
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2007, Economia, p. B6

Relator do projeto de lei que pôs fim ao monopólio estatal, o senador Eliseu Resende (DEM-MG) diz que os resultados ainda estão aquém do esperado. ¿A participação privada no setor é acanhada¿, afirma Resende, que já presidiu as estatais Furnas e Eletrobrás.

Como foi o processo de elaboração da lei?

A lei do petróleo foi um dos trabalhos mais importantes que o Congresso brasileiro já produziu. Foi um debate muito intenso, porque mexer na Petrobrás, você sabe como é difícil... Naquela época ainda tínhamos o Roberto Campos, que defendia a privatização total da companhia, a qual chamava de Petrossauro. A nossa idéia era criar uma agência para cuidar do trabalho de atrair o capital privado, realizando licitações e regulando o setor.

E como o sr. avalia os resultados?

Dez anos depois, vejo que o efeito produzido não teve a dimensão esperada. Esperávamos que as empresas fossem competir com a Petrobrás pelo mercado, que haveria um processo competitivo, com reflexos nos preços dos produtos finais. Mas a participação das empresas privadas hoje é acanhada. Por outro lado, a lei preservou a Petrobrás da privatização e deu estrutura para que a empresa competisse com qualquer companhia mundial do setor.

A que o sr. atribui o acanhamento das empresas privadas?

A participação privada é menor do que esperávamos por causa da infra-estrutura de transporte ainda estar monopolizada e pelo grande conhecimento que a Petrobrás tem da tecnologia e do subsolo brasileiro. A infra-estrutura portuária e dutoviária é monopólio e as empresas privadas, ao invés de competirem, preferiram se associar à Petrobrás. O setor privado é pragmático, prefere o lucro fácil a assumir muitos riscos. N.P.