Título: Indiana Mahindra chega a Manaus
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2007, Economia, p. B14

Fábrica será inaugurada em setembro; empresário convenceu montadora a trocar o Uruguai pelo Brasil

O mais novato do grupo de executivos donos de montadoras brasileiras é Eduardo de Castro Filho, de 45 anos. Ele teve o primeiro contato direto com o ramo automobilístico aos 13 anos, quando começou a trabalhar na loja de autopeças do pai, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Aos 20 anos, mudou para os Estados Unidos. Lá, intermediava para empresas brasileiras a compra de componentes.

Castro especializou-se na área de logística e montou a empresa Bringer, em Miami, para intermediar a importação e a exportação de peças entre empresas dos dois países. Depois fundou outra empresa que freta e aluga aeronaves para transporte de cargas. Mais tarde, ampliou esses negócios com empresas em Porto Alegre (RS) e em São Paulo e buscou diversificação em outras áreas.

Uma delas foi a compra de uma fábrica de montagem de motocicletas em Manaus (AM), que foi ampliada e hoje abriga uma segunda linha, a de veículos da marca indiana Mahindra, que entrará em operação até o fim deste mês, se não ocorrer novo atraso no projeto. A inauguração oficial está prevista apenas para setembro, pois a empresa aguarda a agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, desde sua posse para o primeiro mandato, tem participado de todos os eventos desse tipo no País.

Apesar de viver em Miami e de ser desconhecido no meio automotivo brasileiro, Castro diz que acompanha de perto o mercado, até porque boa parte dos seus negócios - com faturamento de US$ 110 milhões ao ano - está aqui. Ao ver o crescimento da indústria automobilística local, que este ano baterá recorde de vendas, começou a pesquisar novidades no mercado mundial que poderiam ser inseridas no Brasil. Esteve na China, Rússia, Alemanha, Espanha e Coréia. Nada interessou.

No início do ano passado, recebeu em seu escritório executivos da montadora Mahindra, que queria exportar tratores para os EUA e precisava dos serviços de logística. Ficou sabendo que a companhia indiana tinha uma pequena base no Uruguai, de onde pretendia fornecer veículos para a América do Sul.

Ele perguntou ao presidente da Mahindra se ele conhecia a Volkswagen, a Ford, e várias outras montadoras. ¿Ou o senhor está errado ou elas todas vão mudar do Brasil para o Uruguai¿, disse Castro ao indiano. ¿O senhor está no lugar errado, precisa ter linha de montagem no Brasil.¿ Os indianos visitaram o País e concordaram com ele, com quem assinaram parceria logo depois. ¿Isso foi em abril de 2006. Foi um dos negócios mais rápidos do mundo¿, afirmou Castro.

O acordo é similar aos da Mitsubishi e da Hyundai. A Mahindra fornece a tecnologia e as peças para a produção inicial, que chegam ao País em CKD (desmontadas) e futuramente parte delas será fabricada localmente. Castro informa que, de início, não pagará royalties, o que ocorrerá quando os veículos tiverem maior índice de nacionalização. Entre os três executivos brasileiros, apenas Carlos Alberto de Oliveira Andrade, da Caoa, informou que paga US$ 150 de royalty para cada HR produzido em Goiás.

No fim de 2008, a Bramont vai abrir seu capital. A Mahindra terá preferência de compra de ações, conforme cláusula de precaução incluída no acordo de parceria.

Para o início das operações da Mahindra foram investidos quase R$ 40 milhões, também com recursos próprios. ¿Estamos iniciando a construção da segunda unidade, ao lado da atual, para ampliação da linha de produtos¿, informa Castro. A linha atual, com três modelos de picapes e utilitários, um deles o Scorpio, tem capacidade para até 7 mil unidades/ano e, com a segunda, irá para 15 mil, ampliação que exigirá aporte de até R$ 25 milhões. No início de 2008, um novo investimento de R$ 80 milhões será destinado à compra de equipamentos e nacionalização de peças.

Castro também não tem, no curto prazo, planos de produzir um carro brasileiro. ¿O investimento em desenvolvimento de um veículo é uma coisa muito vultosa, não é fácil. Quem sabe no futuro, com as condições do País cada vez mais viáveis, possamos ter um projeto, mas hoje nossa prioridade é a Mahindra.¿ Uma equipe de profissionais brasileiros comanda o negócio em Manaus.