Título: Companhias aéreas poderão ter perdas de receitas de R$ 2 bi este ano
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2007, Economia, p. B18

Estimativa da consultoria MB Associados considera o período de caos aéreo a partir da crise da Varig, em 2006

O caos aéreo que se instalou no País desde o primeiro semestre de 2006, com o colapso das operações da Varig, deverá resultar em perdas da ordem de R$ 2 bilhões em receitas às companhias aéreas nacionais até o final de 2007. A estimativa é da consultoria MB Associados e tem como base o número de passagens para vôos domésticos e internacionais que as empresas deixaram e deixarão de emitir nesse período, por causa dos obstáculos ao potencial de crescimento da demanda no mercado brasileiro.

¿A solução para contornar esses problemas deverá ser via demanda e o instrumento para isso já é conhecido: aumento de preços, o que deverá acontecer com as tarifas aéreas já neste segundo semestre¿, diz o economista Sérgio Vale, responsável pelo estudo da MB Associados.

Pelas suas contas, até maio deste ano, antes do acidente com o vôo da TAM, a perda já chegava a R$ 1,650 bilhão. Desde outubro, quando houve o acidente com a Gol e começaram os problemas com passageiros domésticos, as empresas deixaram de faturar R$ 120 milhões somente com vôos de rotas dentro do País.

No período de 12 meses até maio passado, o número de passageiros domésticos cresceu 9,7%, mas segundo o economista, poderia ter crescido 11,25%, número próximo do que fechou 2006 (12,6%).

¿Se não fosse o acidente do ano passado, que deixou claro os problemas de infra-estrutura de pessoal técnico e que culminou com a greve dos controladores de vôo, poderíamos ter mantido o crescimento na casa dos 12% este ano¿, afirma Vale.

Segundo ele, as empresas aéreas perderam cerca de R$ 120 milhões em passagens para vôos domésticos que deixaram de ser emitidas entre outubro de 2006 e maio deste ano, porque o crescimento da demanda ficou abaixo do seu potencial.

¿Depois do acidente da TAM, é de se esperar que cheguemos ao final do ano com crescimento de apenas 6%, metade do registrado em 2006¿, diz o economista da MB.

Se isso se confirmar, significará perdas acumuladas de cerca de R$ 440 milhões desde outubro do ano passado. Considerando a tarifa média de R$ 250, da Gol e da TAM, as duas maiores operadoras do País, a consultoria estima que mais de 1,8 milhão de passageiros terão deixado de voar por conta da crise aérea.

¿Obviamente, muitas dessas pessoas viajarão por outros meios de transporte¿, observa Vale. ¿Mas pelas longas distâncias do Brasil e pelo medo de voar, uma grande quantidade de viagens deixará de ser feita¿.

VÔOS INTERNACIONAIS

De acordo com a MB Associados, no caso dos vôos internacionais, a perda foi ainda maior, por causa principalmente da crise na Varig e pelos reflexos da crise de infra-estrutura.A queda de passageiros-quilômetro acumulada em12 meses até maio atingiu 41,4%, utilizando-se dados apenas de empresas nacionais que fazem vôos internacionais.

Considerando um modelo que usa a taxa de câmbio real, a consultoria estima que essas companhias deixaram de faturar cerca de R$ 1,530 bilhão desde março do ano passado. Nesse período, a empresa calcula que cerca de 600 mil passageiros deixaram de viajar para o exterior em vôos de empresas nacionais.¿Os assentos perdidos da Varig têm sido recuperados gradualmente pelas outras companhias¿, observa Sérgio Vale. ¿Mas as estimativas são de que, até o fim do ano, poderemos ter deixado de ganhar 1,6 milhão de passageiros novos desde março de 2006, principalmente os que saem do País, já que o câmbio é favorável¿.