Título: Geórgia diz ter sido atacada pela Rússia
Autor: Dias, Cristiano
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2007, Internacional, p. A18

Caça teria invadido espaço aéreo do país e lançado míssil; Moscou nega

O governo da Geórgia acusou ontem a Rússia de ter disparado um míssil contra seu território. De acordo com o presidente Mikhail Saakashvili, na noite de segunda-feira, dois caças russos teriam violado o espaço aéreo georgiano e lançado um foguete de aproximadamente uma tonelada, que caiu, sem explodir e sem deixar feridos, em um milharal na vila de Tsitelubani, a cerca de 65 quilômetros a oeste da capital, Tbilisi.

'Dois aviões russos dispararam um míssil ar-terra às 19h30 de segunda-feira (12h30, hora de Brasília) nos arredores da aldeia de Tsitelubani', afirmou a nota oficial do Ministério do Interior da Geórgia.

Segundo o ministro Ivané Merabishvili, trata-se de um foguete teleguiado de alta precisão. 'Os dados dos radares civis e militares mostram a hora exata da violação de nosso espaço aéreo, assim como a velocidade e a altitude dos aviões', declarou Merabishvili.

'Nós confirmamos o ataque', disse o ministro das Relações Exteriores da Geórgia, Gela Bezhuashvili. 'Isso é uma pequena amostra do comportamento-padrão dos russos', disse o chanceler, que entregou uma nota de protesto ao embaixador da Rússia.

Moscou negou o ataque. 'São acusações sem fundamento', afirmou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. 'Não havia nenhum avião russo na área.' Alexandr Drobyshevski, porta-voz da Força Aérea russa, confirmou que o país não enviou aviões para a região e afirmou que não houve violação do espaço aéreo da Geórgia. 'Não realizamos nenhuma missão na área.'

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, levantou a hipótese de que o incidente pode ter sido causado pelos próprios georgianos. 'Muitos países, entre eles a Geórgia, têm aviões e mísseis como esse', disse.

Para o cientista político russo Vladimir Frolov, diretor do Laboratório Nacional de Política Externa, um centro de estudos de Moscou, o incidente trouxe mais dúvidas do que respostas. 'Para mim, isso cheira a provocação dos georgianos. A Rússia não tem o menor interesse em bombardear a Geórgia', disse ele em entrevista por e-mail ao Estado. 'Além do mais, se é um míssil de alta precisão, por que ele foi parar em um milharal?'

As duas versões conflitantes refletem a tensão entre os dois países, que aumentou desde que a Revolução Rosa, em 2003, levou ao poder o presidente Saakashvili, inimigo declarado de Moscou.

É a segunda vez este ano que a Geórgia acusa a Rússia de bombardear seu território. Em março, o governo denunciou que seis helicópteros russos atacaram forças do Exército georgiano na região separatista da Abkházia. A Geórgia também acusa a Rússia de incentivar movimentos separatistas nas províncias da Abkházia e da Ossétia do Sul. Moscou, por sua vez, reclama do apoio do governo georgiano aos movimentos rebeldes no Daguestão e na Chechênia.