Título: Etanol é o foco em visita a Honduras
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2007, Economia, p. B5

Potencial da América Central de reexportar o combustível para os EUA é um dos motivos da viagem de Lula

A cobrança de setores de Honduras por mais ativismo da Petrobrás na exploração de petróleo em seu território pouco sensibilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que preferiu concentrar-se na oferta de uma parceria brasileira no setor de biocombustíveis. Em entrevista à imprensa, ao lado do presidente hondurenho, Manuel Zelaya, Lula defendeu a tese de que os combustíveis renováveis são 'inexoráveis' e oferecem uma das melhores oportunidades para gerar desenvolvimento econômico na América Central e no Caribe.

A rigor, Lula indicou que sua visita oficial ao país - a primeira de um chefe de Estado brasileiro em cem anos de relações bilaterais - estava focada no potencial da América Central de reexportar o etanol brasileiro para os Estados Unidos e de desenvolver álcool e biodiesel nesses países. A mesma lógica deverá se repetir nas passagens do presidente pela Nicarágua, iniciada na noite de ontem, e na Jamaica, amanhã.

'Pode ficar certo que a Petrobrás estudará a possibilidade (de atuar no país), de acordo com os interesses do governo de Honduras', desconversou Lula, diante da leve pressão para que a estatal atue na prospecção de petróleo no país. 'A Petrobrás tem autonomia. Mas apenas uma certa autonomia. Porque quem indica a direção da Petrobrás é o governo', completou, numa indicação de que sua administração poderia interferir politicamente nas prioridades da companhia.

O próprio Lula, entretanto, deixou claro que não era essa a sua prioridade em Honduras, ao chamar a atenção para a presença de cerca de 15 empresários do setor sucroalcooleiro em sua comitiva. O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, permaneceu ontem na Cidade do México para expor ao Senado local e a representantes da Bolsa de Valores mexicana a experiência da companhia - em especial, sua conversão de estatal monopolista em empresa de capital misto, que atua em ambiente de concorrência.

'Os biocombustíveis são inexoráveis e, portanto, quem sabe seja uma chance de Honduras começar a ter independência na área energética de combustível', afirmou o presidente. 'O Brasil está disposto também a contribuir com outras experiências energéticas porque entendemos que esse será o problema que pode impedir o desenvolvimento de muitos países no século 21', concluiu Lula.

CALDERÓN E CHÁVEZ

Em sua passagem por Honduras, Lula repetiu sua máxima de que os países latino-americanos não podem priorizar as relações com as economias mais ricas, em detrimento das relações com a vizinhança. Mas deixou, com isso, passar uma crítica à política externa do México, país que concentra 85% de seu comércio com os Estados Unidos, visitado por ele na segunda-feira. Ciente do deslize, emendou que havia concordado com o presidente mexicano, Felipe Calderón, que ambos os países não poderiam mais deixar de se olhar reciprocamente.

'Um país que quer ser soberano não pode ficar dependendo de um ou de dois países. É preciso ter uma relação bastante plural.' Lula também esbarrou, discretamente, no presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao elogiar o cardeal hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga por seu alerta sobre o impacto da cobrança da dívida de países pobres sobre a capacidade de recuperação de suas economias. Em julho, Maradiaga declarou que Chávez 'se sente como um deus' e o aconselhou a buscar o diálogo com outros setores políticos da Venezuela. Chávez chamou o cardeal de 'papagaio do império' e provocou uma rusga diplomática com Honduras.