Título: Do plenário, Renan se compara a Sócrates
Autor: Costa, Rosa e Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2007, Nacional, p. A7

Em sua terceira defesa em uma semana, ele elogia adversários e ataca mídia.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), comparou-se ontem ao filósofo grego Sócrates, que em 399 antes de Cristo foi condenado a se envenenar tomando cicuta, acusado de não venerar os deuses gregos e de corromper jovens com a sua pregação filosófica. Renan afirmou em plenário que não reviverá o processo de Sócrates, ¿condenado por um tribunal político, que julgou em nome de ressentimentos e por motivos distanciados da verdade¿.

Foi a terceira vez, em uma semana, que o parlamentar se defendeu fora da cadeira de presidente da Casa. Após duas falas da tribuna, na semana passada, ontem ele ficou mais próximo dos colegas e discursou do plenário. Pesam contra ele três denúncias: a de ter despesas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo; a de ter favorecido a Schincariol, depois de a empresa ter pago R$ 27 milhões pela fábrica de refrigerante de seu irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), que estava prestes a fechar, e a de ter sido sócio de um jornal e manter duas emissoras de rádio em nome de laranjas.

Um dos relatores do primeiro processo, Renato Casagrande (PSB-ES), diz que os discursos não influenciarão o resultado da investigação. ¿A estratégia de se defender em plenário é normal, mas não altera o mérito das apurações¿, alegou.

AUSÊNCIA

Já os aliados tentam convencê-lo a se manter fora do País por pelo menos 15 dias. Eles acreditam que a transferência do comando do Senado para o vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), removerá a obstrução que pode impedir a votação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Seus assessores negam a estratégia.

¿Agora que a fragilidade das acusações começa a ficar evidente, buscam fomentar a cizânia, criar mexericos, indispor-me com outros senadores¿, alegou Renan. De quebra, ainda elogiou o líder do DEM, José Agripino (RN), e Jefferson Péres (PDT-AM) - dois defensores de seu afastamento do cargo.

Sobre as denúncias, o senador reiterou tratarem-se de ¿interesses políticos mesquinhos, paroquiais, embalados pelo ressentimento e pelo rancor¿. Ele voltou a acusar o Grupo Abril de publicar reportagens contra ele ¿para manter incógnita uma bilionária transação contrária ao interesse nacional¿ - referência à venda da TVA.