Título: Câmbio acende o alerta nas redes de varejo
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2007, Economia, p. B1
Subida muito acentuada do dólar pode inviabilizar as encomendas de produtos para o Natal.
Às vésperas de bater o martelo nas encomendas para o Natal, importadoras e grandes redes de supermercados estão atentas ao comportamento do câmbio, depois das turbulências ocorridas nos últimos dias no mercado financeiro.
A expectativa de ampliar em 10%, em média, o volume de pedidos em relação ao fim do ano passado está, por enquanto, mantida, dizem os empresários. Mas, para escapar do risco de uma desvalorização do real em relação ao dólar, o que encareceria os importados, a tendência é adiar ao máximo o fechamento do câmbio.
'Acendeu o sinal amarelo', admite o presidente Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda. Ele ponderada, no entanto, que ainda é cedo para alterar os volumes encomendados. Honda acredita que a elevação do câmbio é passageira, pois os bancos centrais no mundo estão agindo para conter a crise financeira e essa volatilidade não deve acabar com a festa dos importados para o Natal.
Entre alimentos, bebidas, artigos de vestuário e produtos eletroeletrônicos, os supermercado devem ampliar em 10% o volume de encomendas ante dezembro do ano passado.
A Interfood, por exemplo, que importa alimentos e bebidas para grandes redes de supermercados, já fez metade das encomendas do Natal, com previsão de crescimento entre 10% e 15% nos volumes ante 2006. 'Por enquanto, a turbulência no mercado financeiro não nos preocupa', afirma o diretor de Marketing, Bruno Airaghi.
Para o executivo, com o dólar cotado entre R$ 2,00 e R$ 2,10 não haverá problemas porque a companhia ainda terá fôlego para absorver as variações com redução de margens, sem repassar os aumentos de custos para os preços ao consumidor.
'Mas, se superar R$ 2,40, será preciso rever as importações', observa ele. Há mais de 20 anos no mercado, a companhia está entre as maiores importadoras, com vendas anuais de US$ 43 milhões em 2006. Distribui com exclusividade no País as marcas Absolut, Cointreau, Tobleronne, Carbonell, entre outras.
Mariano Levy, sócio-diretor da importadora de vinhos Grand Cru, faz uma análise semelhante a de Airaghi. E ele diz que pretende manter os pedidos feitos para o fim de ano e os preços, se o dólar ficar na faixa de R$ 2,10. Se a cotação atingir R$ 2,50, o quadro terá de ser reavaliado. Por enquanto, Levy está otimista para o fim de ano: já encomendou 80% dos volumes e ampliou em 70% as encomendas na comparação com o Natal de 2006.
'Não estou preocupado com a turbulência', afirma o sócio-diretor da Casa Santa Luzia, Jorge Conceição Lopes. Ele, que ampliou entre 5% e 8% as encomendas de importados para o Natal, diz que as alterações do câmbio registradas até agora têm impacto muito pequeno nos preços e no consumo.
'São alterações de centavos.' Ele destaca, porém, que o quadro pode mudar se a variação do câmbio for na faixa de 10%. A empresa fecha o câmbio na hora em que a mercadoria chega ao País.
Já o Carrefour está protegido das variações do câmbio nos preços dos itens importados. 'Fazemos a cobertura cambial (hedge) na hora que fechamos a encomenda', conta o diretor de Mercadorias, Laurent Ben David.
Cerca de 90% dos pedidos de bebidas, eletroeletrônicos, brinquedos e demais itens que não são alimentos já foram feitos. As mercadorias devem chegar a partir da segunda quinzena de setembro. 'Muitos itens são fabricados na Ásia e demoram para chegar ao País.'
David destaca que os prognósticos para as vendas são otimistas para este fim de ano. As encomendas da rede no segmento de produtos não alimentícios estão cerca de 20% maiores na comparação com as do Natal de 2006.