Título: Crise pode afetar comércio mundial, alerta OMC
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2007, Economia, p. B4
Entidade retoma previsão inicial de 6% de alta e pede conclusão de Doha para fortalecer economia mundial.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) faz um alerta: as turbulências no mercado financeiro e imobiliário poderão ter impacto negativo no ritmo de crescimento das exportações e da economia mundial em 2008. A entidade, que apela para a conclusão da Rodada Doha como forma de fortalecer a economia mundial, acrescenta que a onda de volatilidade está aumentando as incertezas para a economia mundial neste ano.
Na avaliação da OMC, se a crise imobiliária se confirmar nos Estados Unidos, os países que destinam uma importante parcela de seu comércio ao mercado americano devem ser os que mais sofrerão.
A análise está no relatório anual da OMC publicado ontem e destaca que, para este ano, o comércio mundial deverá ter alta de 6% (ante 8% em 2006). Há cerca de dois meses, a OMC chegou a rever para cima a projeção de expansão do comércio. Mas, com a atual crise e diante das incertezas sobre o déficit comercial americano, acabou retomando a projeção inicial.
Para Robert Teh, economista da OMC, existe a possibilidade de que os riscos identificados hoje no mercado financeiro contaminem o crescimento mundial nos próximos meses. 'Essa é nossa grande preocupação no momento.' Segundo o economista da OMC, quanto maior a relação de um país com o mercado americano, maior poderá ser o risco. 'Nos últimos dez anos, o mercado americano foi muito interessante para muitos exportadores. Mas uma crise pode acabar exigindo que exportadores diversifiquem os destinos de suas vendas.'
De fato, o desempenho americano em 2006 ajudou o comércio mundial a crescer 8%, maior alta desde 2000. Em valores, movimentou US$ 11,7 bilhões, 15% a mais que em 2005. O ano ainda foi o melhor nas exportações americanas em uma década, ainda que o déficit comercial tenha aumentado.
O crescimento do PIB europeu e japonês também teve efeito positivo em 2006. Isso sem contar o fato de que China e Índia continuam batendo recordes de exportação. O aumento das exportações chinesas foi de 27% e, nos primeiros meses de 2007, o país já superou os Estados Unidos como segundo maior exportador do mundo.
Diante do desempenho de Pequim, os países emergentes tiveram participação recorde no comércio mundial (36% do fluxo comercial). Para algumas regiões, como América do Sul e Oriente Médio, o ano foi de recorde nas exportações, graças à alta nos preços de metais e combustíveis.
RODADA
Para 2007, a OMC mantém a previsão de crescimento do PIB mundial em cerca de 3%. Mas não descarta queda em 2008. Não por acaso, a entidade aproveitou a publicação de ontem para insistir na necessidade de os governos entrarem em acordo para concluir a Rodada Doha.
Para o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, a conclusão da Rodada enviaria uma mensagem de confiança a 'governos, agentes econômicos e ao público'. Segundo ele, um acordo ainda demonstraria o compromisso dos governos com a abertura de mercados e regras multilaterais, além de garantir que 'as fundações da economia global estejam reforçadas'.
Lamy aproveitou para dar sua mensagem aos governos de que o comércio sozinho não conseguirá acabar com a pobreza no mundo. 'A redução da pobreza somente ocorrerá quando governos adotarem políticas domésticas adequadas em educação, em questões sociais, em inovação, infra-estrutura e no campo fiscal.'