Título: Lucro de empresas abertas cresceu 37% no 1º semestre
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2007, Economia, p. B6
Soma dos ganhos atingiu R$ 21,5 bilhões, mas seria bem maior se incluísse Petrobrás e Vale do Rio Doce.
O bom desempenho da economia brasileira no primeiro semestre turbinou o lucro das empresas de capital aberto e elevou a rentabilidade sobre o patrimônio líquido para os maiores níveis da história. Segundo levantamento feito pela Economática com 147 companhias com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o ganho entre janeiro e junho apresentou crescimento real (descontada a inflação) de 37,3% comparado a igual período de 2007.
A soma dos lucros atingiu a cifra de R$ 21,5 bilhões e o retorno sobre o patrimônio, 18,3%. Para não distorcer o resultado, os números do estudo não incluem os balanços da Petrobrás e Eletrobrás, que lucraram R$ 10,9 bilhões e R$ 82,8 milhões, respectivamente.
Desta vez, a Economática também decidiu não somar os números da Companhia Vale do Rio Doce, que lucrou R$ 10,9 bilhões no semestre. A explicação está na aquisição da canadense Inco, no fim do ano passado, por US$ 13,4 bilhões. 'O avanço das receitas seria muito grande', justifica o presidente da empresa de informação financeira, Fernando Exel.
Ele classifica de 'fabuloso' o resultado das companhias no primeiro semestre. 'Basta olhar o avanço das receitas líquidas, que refletem de forma mais fiel a atividade econômica do País', destaca Exel. O faturamento desse grupo de empresas teve aumento real de 13,1% e bateu R$ 194 bilhões. A dívida financeira subiu um pouco, mas não representa problema. Isso porque as empresas estão com folga para honrar seus compromissos.
Exemplo disso é o avanço da relação dívida/lucro operacional (antes de juros e impostos), também conhecido como Ebit. No primeiro semestre, o indicador, que mostra a capacidade das empresas de honrar o pagamento dos serviços da dívida, subiu de 19,9% para 23,8%. Isso significa que, para cada R$ 100 de dívida, as empresas lucraram R$ 23,8 no primeiro semestre, explica Exel. 'É uma folga expressiva.'
SETORES
Diferentemente dos últimos anos, em que os lucros eram impulsionados pelas exportadoras, desta vez os bons resultados se estenderam por quase todas as áreas da economia. Dos 16 setores avaliados pela Economática, apenas dois apresentaram desempenho negativo (ver quadro). Os demais tiveram elevados índices de crescimento real comparado a igual período do ano passado.
No setor de energia elétrica, por exemplo, o avanço foi de 61,5%. Segundo o gerente de Renda variável da Máxima Asset Management, Denilson Duarte, uma das principais explicações é o aumento do consumo no País acima das expectativas, o que acabou compensando algumas reduções de tarifas.
Até maio, o consumo de eletricidade havia atingido 5,2%, conforme dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O consumo industrial, que representou 44% do mercado, teve crescimento de 4,2% em relação ao mesmo período de 2006. No residencial, o avanço foi de 6,8% e, no comercial, 7%.
Outro setor de destaque no semestre foi o de alimentos e bebidas, cujo aumento real ficou em 65,2%. Mas, nesse caso, o crescimento também é explicado pela gripe aviária, que no ano passado reduziu as vendas de Perdigão e Sadia para o mercado internacional.
Os dados do primeiro semestre mostram uma recuperação das receitas perdidas em 2006, explica o analista de consumo do Unibanco, Marcio Kavassaki. Segundo ele, as empresas que atuam no mercado interno, especialmente aquelas do setor de consumo, tiveram bons resultados no primeiro semestre por causa do aquecimento da economia, crescimento do crédito e melhora da renda.
No setor de siderurgia, o crescimento da demanda na área de aços planos ficou acima do esperado, impulsionado pelo avanço das atividades do setor automotivo. Segundo o analista da Brascan Corretora, Rodrigo Ferraz, até agora o aumento da demanda no segmento de aços planos está em 17% em relação a igual período de 2006. No mercado externo, diz ele, os preços estão bastante elevados, o que acaba balizando os preços por aqui. Ou seja, as empresas ganham dos dois lados, completa o analista.