Título: Propostas estão desequilibradas
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2007, Economia, p. B1

Para o chanceler, setores agrícola e industrial estão recebendo tratamento diferenciado sobre redução de tarifas.

Genebra - O chanceler Celso Amorim foi ontem de Bruxelas a Genebra dizer ao diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, que as propostas da entidade para a abertura dos mercados agrícolas e industriais estão ¿desequilibradas¿. Amorim esteve também com o G-20, grupo de países emergentes, e garantiu que o bloco está unido e apoiará as sugestões da OMC no setor agrícola. Cuba, porém, não endossou completamente a idéia de apoio à proposta por alegar que alguns interesses dos países em desenvolvimento no setor agrícola não estavam contemplados.

Os textos da OMC sugerem que os emergentes cortem em mais de 60% suas tarifas de importação de bens industriais. Já os americanos estabeleceriam um teto de até US$ 16,4 bilhões em subsídios por ano. Aos europeus caberia um corte entre 66% e 73% em suas tarifas de bens industriais.

Diante da situação, Amorim deu seu recado a Lamy. ¿Eu disse a ele que há um desequilíbrio inerente (nas propostas)¿, afirmou o chanceler. Para Amorim, o problema central é que a proposta agrícola, ainda que seja aceitável para o Brasil, permite certos confortos aos países ricos. Isso porque a Europa praticamente não teria de fazer grandes esforços para chegar ao que a proposta sugere.

¿Já no setor industrial, a abertura sugerida aos países emergentes não dá nenhuma margem de conforto e é ambiciosa demais¿, disse Amorim. ¿Não é o que pedimos¿, acrescentou, insinuando que tentará influenciar o processo para modificar as propostas de liberalização do setor industrial.

Após seu encontro com o G-20, Amorim garantiu que o grupo está unido e há uma percepção geral de que se poderá usar o texto agrícola como base para as negociações. Diplomatas da Venezuela, Uruguai e Argentina também apontaram para uma convergência nas opiniões do grupo. ¿A unidade do G-20 é essencial para uma conclusão da Rodada. Há um entendimento que, seja qual for o progresso, ele aconteceu por causa do G-20¿, disse o chanceler.

Mas os negociadores alertam que a união do G-20 é apenas ¿parte da história¿ e está cada vez mais claro que não há nenhuma união na questão dos produtos industrializados.

Na semana que vem, a entidade volta a se reunir oficialmente pela primeira vez após a apresentação dos documentos. Cada grupo irá, até lá, estudar cuidadosamente o que será dito para que os encontros não signifiquem o fim da Rodada Doha. ¿Certamente, ainda há um longo caminho a percorrer¿, concluiu o ministro.